Porque rir é sempre um bom remédio!

segunda-feira, setembro 29

Opá este fim de semana descobri esta peróla e ainda não consegui parar de rir!

YouTubeis e procureis por "Bicha do demónio".
Aqui fica uma piquena amostra:

Ventos de mudança

quinta-feira, setembro 25

Para quem não viu a reportagem da RTP ontem aqui fica o link:



"Certo é que são realidades crescentes, cada vez mais assumidas e incontornáveis."

E parabéns à RTP pela forma aberta e sensível como abordou o assunto das famílias compostas por dois pais ou duas mães.

"I Have a Dream"

segunda-feira, setembro 22



Agora que os ABBA voltaram a estar na moda não posso deixar de sorrir quando torno a ouvir esta música que há trinta anos atrás para mim não passava de uma melodia de sonoridade fácil. Na verdade já não acredito em anjos nem que todos têm uma parte boa dentro de si. Há pessoas muito invejosas, muito mesquinhas, muito ciosas de algo que não é seu e acredito fervorosamente que um dia tudo irá mudar, infelizmente não creio que seja brevemente. Não há vontade política dizem uns, eu acho que será mais porque a classe política portuguesa é extremamente facciosa (salvo raras excepções) e muito machista. Parece que voltámos aos tempos da rainha Vitória que acreditava que o lesbianismo era coisa de ficção e que tolerava os homossexuais desde que não lhe assustassem os cavalos!

Em vez de marcharmos com confiança em direcção a um futuro de liberdade, respeito e tolerância, voltamos atrás. Discute-se, debate-se, fala-se e escreve-se muito sobre a homossexualidade mas ninguém conhece a realidade das histórias de amor que se passam por trás da cortina da normalidade imposta por uma sociedade que se diz tolerante mas que não dá passo nenhum no sentido de o ser. Afinal há quantos anos a discriminação com base na orientação sexual passou a ser condenada pela nossa constituição? E porque é que descriminar um casal com base no sexo de cada um no acesso ao casamento civil não é também condenável, assim como seria descriminar um casal em que um dos elementos tivesse uma cor diferente do outro?

Estou descrente, o meu sonho existe mas não acredito puder vir a concretizá-lo em vida, pelo menos não no nosso país. Eu vivo uma bela história de amor igual à de tantas outras pessoas mas diferente de todas as outras porque é a minha. A minha mulher é minha porque um dia eu encontrei-a e escolhi-a assim como ela me escolheu a mim e demos todos os passos no sentido de nos tornarmos um casal, namorámos, demo-nos a conhecer, amámo-nos louca e apaixonadamente e decidimos finalmente ir viver juntas. Se fosse permitido por lei o próximo passo, lógico para ambas, seria o casamento civil.

Não porque isso mudasse uma vírgula que fosse à nossa única e maravilhosa história de amor. Apenas porque o nosso tempo aqui é finito e nós sabemos que daqui a vinte ou trinta anos outros valores poderão vir interpor-se entre aquilo que hoje estamos a construir a duas. Se eu ficar inválida ou quando morrer, quero que tudo o que é meu seja dela e sei que mesmo que faça um testamento em seu favor isso poderá não ser linear. Ninguém neste mundo quer saber da minha única e maravilhosa história de amor a não ser nós as duas mas um dia que uma de nós falte à outra... e é só nesse sentido que eu queria casar-me com ela, para que perante a sociedade civil ela tivesse um estatuto igual àquele que já tem (e sempre terá) para mim. Ela é a minha mulher, de corpo e alma. É o meu passado, presente e futuro. E mesmo que me digam que eu não devia nem querer saber o que se passará depois de mim, eu preocupo-me por ela e pelo que ela terá que passar um dia sem mim. Há barreiras que o amor não chega para transpor e a morte é uma delas.

Posso continuar a sonhar em ter um casamento de sonho, assim como contínuo a maravilhar-me com contos de fadas, mas isso não chega para acreditar que um dia o nosso país irá evoluir. Ainda assim sei também que as nossas histórias de amor se irão continuar a escrever porque o amor verdadeiro encontra sempre um caminho, mesmo que seja um caminho muito diferente e bastante mais complexo do que o usual. E isso não vai mudar, mesmo que no dia 10 de Outubro continue tudo tal como está.

Chorar sobre leite derramado

quarta-feira, setembro 3



Bem sei que já se passou mais de um mês mas Agosto tem destas coisas e o tempo quente que se faz sentir lá fora não é amigo de quem se refugia nos meandros da leitura e da escrita, muitas vezes para escapar a uma realidade que é demasiado branda para se servir a seja quem for que aqui venha à espera de um tónico, de preferência com gelo. E também sei que há exigências mínimas e é bom que assim se mantenham porque escrever com o intuito de entreter não é para qualquer uma e só as mais corajosas se atrevem a dar esse passo sem saberem o que as espera do outro lado.

No entanto nem sempre se consegue manter um controlo cerrado sobre aquilo que se produz... e muitas vezes somos expostas a más interpretações que arrasam toda uma reputação, muitas vezes ainda antes de nos dispormos a ir mais longe do que aquilo que ambicionamos. E para não massacrar mais as que aqui passam depois de umas férias bem merecidas e espero que bem passadas, passo a exemplificar daquilo que falo de modo menos críptico e mais passional.

Embora seja um facto que não me importa agora, nem me importou nunca, aquilo que pensam sobre mim porque eu não sou mais do que um fugaz nada que se ilumina por brevíssimos momentos e que se irá apagar um dia sem que o mundo lá fora dê por isso. Achar que o que faço ou digo tem relevância seria dar-me demasiada importância e eu sei bem o lugar que ocupo no grande esquema do universo (credo que agora até pareço um desses evangelistas do advento!) E não sou nada disso, apenas gosto de contar histórias para me manter entretida!

Bem dizia a minha avó que não se deve brincar com o fogo porque o fogo queima fazendo-o por vezes com artes e engenhos que não lembraria ao próprio diabo. Fui devassa na minha juventude, e tive daqueles momentos em que nos julgamos donas e senhoras do mundo e de algumas pessoas que nos rodeiam. É tão fácil achar que estamos na crista da onda, quase tão fácil como achar que estamos no mais fundo dos caixotes de lixo da vizinhança e arredores. Uma miúda assumidamente lésbica numa terra onde ainda nem se sabia bem o que isso era... imagine-se! Os homens olhavam para mim com desconfiança e natural curiosidade. As mulheres admiravam-me! Eu que andava por ali a espalhar aos quatro ventos que não precisava de homem nenhum, que estava perfeitamente bem sozinha, que filhos nem vê-los porque só trazem problemas e chatices, um dia... apaixonei-me! Tão profundamente que deixei de me reconhecer nas coisas que lhe dizia, e muito menos nas coisas que lhe dizia que por ela faria! Com Clara desaprendi tudo o que sabia e posso mesmo afirmar que ela mudou a minha vida completamente. É engraçado e talvez até interessante verificar como mudam os nossos percursos de vida após certos encontros que nos marcam indefinidamente. Mas na altura a coisa não se prestava a nenhum tipo de análise concreta e racional. A Clara passou a ser o meu motivo e modo de vida.

Claro que hoje sei o quanto ela se regozijava com isso! Deve dar uma noção de poder enorme saber que se mantém um ser vivo escravizado por todas as suas vontades e caprichos. E o amor torna-nos de facto cegos, e estúpidos. Mas também se assim não fosse quem se atreveria a abrir a sua intimidade por vezes tão cuidadosamente preservada a um perfeito estranho?

Clara estava na aldeia de passagem, numas férias que ela entendeu prolongar quando se apercebeu do efeito que tinha em mim. Calculo que não fosse difícil entender até onde eu pretendia chegar, calculo que ela se apercebesse perfeitamente das subtis mudanças de intensidade no meu olhar quando se acercava dos seus melhores e mais avantajados atributos. Tantas vezes me perdi naqueles decotes intencional e escandalosamente descaídos para provocar. Se dúvidas houvessem, e eu nessa altura já não tinha nenhumas, passaria a saber muito bem qual é a parte do corpo da mulher que acende aqui o meu pequeno foguetão interior. E que par, senhoras, que par! Que se chegue à frente a mulher que nunca olhou para um belo par sem segundas intenções! Ainda hoje tremo só de pensar... na obsessão que se tornou em mim puder abraçar aquele par e cheirar aquele cheiro doce e quente... e tocar naquela pele que é a mais suave e macia que se pode encontrar... e saborear o suor que por vezes ali escorre, mais doce que salgado, mais mel do que fel...

Não era só disso que se tratava o meu súbito interesse por Clara, mas foi por aí que tudo começou. Foi esse o seu atributo que me levou a sonhar com noites infindáveis de paixão e de prazer. Era ao meio dessas montanhas que eu almejava chegar, percorrendo caminhos onde me sonhava destemida pioneira, só as minhas mãos, os meus dedos e a minha língua poderiam sobrevoar e aterrar naqueles picos que adivinhava tesos através dos decotes indecorosos de que Clara abusava. E sempre que a convidava para o proverbial café, todas as tardes quando a avistava no seu passeio diário do meu poiso na oficina onde então trabalhava, ela aceitava com uma acentuada reclinação do regaço que não deixava margem para dúvidas, a fala evaporava-se, e tinha mesmo que me forçar a respirar tentando não perturbar a visão do que ela ali me expunha.

Assim se passaram semanas, ela provocando-me e eu tentando arranjar uma deixa, um motivo, qualquer coisa inteligente que me permitisse chegar mais perto dela e mais longe do que todos os seus outros amantes. Clara tinha um passado pejado de homens, ou pelo menos ela assim o apregoava. E nesses instantes alguém, eu própria, deveria ter concluído que eu seria apenas mais uma estaca nessas outras tantas que ela já enterrara no campo dos amantes passados. Mas na inquietação dos meus verdes anos achei que se ela se desse a provar a uma mulher nunca mais iria querer saber de homem nenhum. E foi por meias palavras, talvez mais por olhares e tocares, que lhe dei a entender que a queria no sentido bíblico pois porque não são só o homem e a mulher que se deitam juntos para se amarem. Duas mulheres também se podem amar assim, atingindo profundidades no prazer que não são equiparáveis a nada mais que exista no mundo das emoções e sensações. E quem não tem conhecimento de causa não pode opinar sobre o que nunca lhe passará pela cabeça, corpo e alma.

Um dia Clara perguntou-me se eu era virgem. Assim sem mais outro assunto entre nós que não o estado do tempo ou os seus afazeres na grande cidade. Ao que eu visivelmente corei porque não sabia como explicar-lhe que era virgem no sentido de nunca me ter deitado com um homem, mas que não me sentia virgem por já ter estado com várias mulheres e já ter conhecido os prazeres do sexo sem condicionantes nem limitações. Provavelmente seria a mulher mais sexualmente activa da aldeia e no entanto muitos me consideravam virgem por nunca ter tido um namorado! Eu respondi-lhe que sim e não sabendo que uma resposta dessas não serve a quem quer chegar ao fundo das questões. Mas naquele momento serviu para me refrescar a alma no seu riso cristalino e contagiante. "Não digas mais nada..." falou a voz da experiência. "Tenho pena porque um dia vai-te fazer falta." Assim! Sem mais! E eu indignada! "Falta porquê?? Ora essa!" E era ela que me vinha dizer que deixar de ser virgem, com um homem, era coisa que me ia importar no futuro! Nesse ponto posso categoricamente afirmar que ela estava redondamente enganada! Nunca me fez falta um homem, em termos sexuais, emocionais, financeiros, racionais ou outros que tais. Felizmente sempre consegui viver a minha vida sem homem algum ao meu lado e isso é algo de que me orgulho particularmente porque sempre me disseram que uma mulher sozinha, ou mesmo acompanhada de outra, nunca chegaria a lado nenhum.

Quase deixei de lhe falar por isso mas hoje acho que ela o disse só para me espicaçar ainda mais. Como se uma mulher precisasse mesmo de um homem, como se um homem fosse aquilo que ela precisava deixando no ar que eu era uma mera distracção casual. E a partir daí eu esforcei-me para lhe mostrar que não acreditava nessa sua mentalização sexista, porque o mundo e a sociedade estavam a mudar, e as mulheres já não precisavam de um homem para as proteger e sustentar. E quanto mais eu tentava mais ela se ria de mim, e mais eu me enredava, prisioneira daquele riso cristalino e daqueles seus atributos que não me deixavam parar de sonhar.

Um dia Clara teve que voltar aos seus afazeres citadinos, mas nem por isso pararam os meus sonhos. Por muitas noitadas que fizesse tentando perder-me noutros corpos e noutros cheiros, não conseguia libertar-me da imagem de Clara, gozando-me, provocando-me, assegurando-me que um dia um homem me viria cravar uma estaca apagando assim o meu fogo e matando aquilo que eu considerava ser a minha essência.

Mas chegou uma carta e não era daquelas cheias de baboseiras que as miúdas doutras aldeias me costumavam enviar. Era uma carta seca, profissional, convocando-me para uma reunião num escritório de advogados na cidade. Só percebi que era dela pela assinatura no fim. Impressionante... e intimidante! Quereria ela apresentar-me a algum fulano dos seus conhecimentos? Quereria ela iniciar-me nesse mundo sexual que ela dizia tão bem conhecer? Fiquei apavorada mas peguei nesse meu lado imprudente e fui!

O meu encontro com Clara a sós... havia meses que sonhava com aquele momento em que podia finalmente senti-la no meus braços. Entregue a mim e submissa. Rendida aos meus encantos e charmes. E não há sempre momentos em que nos sentimos vitoriosos e confiantes? Em que nada pode correr mal porque sabemos e conhecemos as nossas capacidades e sentimo-nos à altura deste mundo e do outro? Eu era assim, a entrar no que efectivamente me parecia um escritório e a olhar para Clara semi-desnuda, sentada numa chaise longue olhando para mim daquela forma lânguida e pré-coital que eu conhecia tão bem. "Mostra-me o que sabes fazer..." e aquilo foi música para os meus ouvidos! Esqueci passado e nervosismo e empenhei-me em mostrar-lhe como eu sabia amar uma mulher. Adorei e reverenciei devidamente os seios generosos que pela primeira vez podia tocar e cheirar e beijar. Eram tal como tinha sonhado mas em mil vezes melhor, porque há uma componente substancial que nem em sonhos conseguimos alcançar. Talvez seja um regresso à tenra infância, a memórias tão longínquas guardadas em bocados fragmentados de nós, que nos leva a querer tanto esse contacto, nesse preciso lugar onde um dia fomos alimentados e embalados por quem nos quis mais do que ninguém.

Ela libertava-se por baixo de mim, sentia-a vulnerável, aberta aos avanços que eu tinha delineado. Não sem antes a beijar pela primeira vez e assim selar aquela paixão que me tinha consumido durante tantos meses. E nela era tudo bom, um verdadeiro festim sensorial!

Sentindo-a favorável, apressei-me para chegar lá onde eu queria e ela facilitou-me o caminho, abrindo as pernas e deixando-me chegar mais perto do seu sexo que já tinha sentido abundantemente humedecido. Estava já no meu auge e sabia que podia levá-la comigo mas de repente... leite! Era leite o que escorria do seu sexo oferecido! Nunca tinha visto nada assim e espero nunca mais nada assim ver! Um líquido espesso e branco... que hoje sei ser proveniente do marido que a agredia e violava quase diariamente!

Perante aquele cenário chorei, e sempre que me lembro de Clara choro novamente. Não consumei o acto, não fui capaz perante tamanha evidência de actos recém passados. Pedi-lhe desculpa, disse-lhe que se quisesse experimentar uma mulher que procurasse outra porque eu não iria conseguir abstrair-me desse leite que escorria entre nós. E assim acabou essa história que tanto me marcou. Muito do que chorei, e do que ainda hoje choro, se remete a esse leite ali tão vilmente derramado!

 

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