Familias

sexta-feira, fevereiro 27


Casa dos pais, jantar na mesa, TVI de fundo. Todas as vezes que lá vou passa uma notícia LGBT. Desta vez foi a gravidez daquele senhor.

Sobrinho - Epa, mas como é que um homem pode ter um filho?

Algum silêncio. Quem é que vai responder à criança? Espanto meu, existe alguém mais surpreendida do que eu? O meu pai foi o primeiro a abrir boca!

- Ele era uma mulher e fez uma operação porque quis ser homem, mas ficou lá dentro com a barriga para ter bebés.

- Isso é estranho, e teve que pôr uma pilinha? Para que é que quis ser homem?...

Como se não bastasse, a minha mãe vê uma imagem da esposa a amamentar e exclama:

- Mas como é que ela tem leite, se não foi ela que teve a criança?!!

Parecia uma daquelas publicidades em que uma velhota dizia que era uma vergonha porque iam dois gays de manga curta com aquele frio ou qualquer coisa do género... Se calhar, deviam ir aos "Prós e contras" falar com aqueles senhores da defesa da familia e afins.

Só sorri...

É um bocadinho triste isso é!

sexta-feira, fevereiro 20

Gosto desta mulher!

Apesar da brilhante argumentação (ide ver o que escreve a Fernanda Câncio no DN – via Rita Cacao), e de muitos acharem que sim, que temos toda a razão e que devíamos ter todos os direitos, quer a coisa se chame casamento ou outra coisa qualquer, depois temos uma larga facção da sociedade a quem este tema do casamento entre homossexuais já chateia. Porque dizem que se deveriam estar a discutir outros assuntos (não invalida que se discutam na mesma), porque acham que é uma manobra política de diversão e deixa cá entretermo-nos todos com discussões "fracturantes" e "filosóficas" até termos assuntos mais mediáticos.

Mas a culpa de tudo isto não é nossa, que eu saiba ninguém pediu a jornais, televisões, revistas, blogs e tudo por aí fora para dedicarem o seu tempo a escreverem a favor ou contra o casamento entre homossexuais. Por mim nem havia discussão, a lei passava, eu casava-me e ponto. Como em todos os temas éticos e sociais sobre o qual a Igreja tem uma posição imutável, esta questão nunca irá ser pacífica na sociedade até daqui a umas quantas gerações (como não foram certamente pacificas as alterações legislativas que atribuíram direitos às mulheres e às pessoas de raça negra, como refere e bem a Rita Cacao). E como a sociedade adora uma boa disputa, melhor ainda se houver humilhados e feridos, acho que já nem importa de que lado, cá vai de alimentar os ódios de estimação e dar tempo de antena a quem de outra forma nunca o teria.

Interessa-me alguma coisa aquilo que um qualquer burgesso que nem ler ou escrever sabe pensa sobre o facto de eu me querer casar com a mulher que eu amo? Interessa-me que ele ache que todos os homens homossexuais andam por aí disfarçados de mulheres e que todas as mulheres lésbicas se pareçam com camiões de 8 rodados e já agora com bigode e barba farfalhuda? Não, nada, zero!!

É uma questão de direitos fundamentais, nós somos uma minoria que nunca será aceite como igual pela facção conservadora da sociedade (que provavelmente ainda hoje não digere bem a igualdade de direitos entre homens e mulheres, entre brancos e pessoas de raça negra), e sendo Portugal um país laico, onde existe uma clara e intencional separação entre estado e Igreja, não devia sequer estar a haver discussão de espécie alguma!

Ai que nervos!!

terça-feira, fevereiro 17



Confesso que fiquei pregada à televisão e segui com enorme atenção tudo aquilo que foi dito ontem à noite no debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo no programa Prós e Contras da RTP1. O lado daqueles que são a favor estava muitíssimo bem representado por Miguel Vale de Almeida, a Dra. Isabel Moreira, o Dr. Pamplona Corte Real, Daniel Oliveira, Paulo Corte Real, uma brilhante Fernanda Câncio e uma plateia cheia de pessoas querendo ver a sua dignidade (ou a de amigos e familiares) reconhecida pelo estado. Os argumentos usados a favor do acesso ao casamento civil por pessoas do mesmo sexo são sobejamente conhecidos a começar pela nossa própria constituição que como referiu a Dra. Isabel Moreira proíbe a descriminação com base na orientação sexual do indivíduo. Se a constituição é aquilo que nos rege de mais básico e fundamental então a lei que regulamenta o acesso ao casamento civil é discriminatória porque impede uma pessoa homossexual de casar com uma pessoa do mesmo sexo.
Do lado daqueles que são contra ouvi argumentos de arrepiar, de pessoas que são supostamente cultas, inteligentes e deviam ser informadas sobre aquilo que se estava ali a discutir. Tirando o Padre António Vaz Pinto que foi o único com um discurso coerente e correspondente àquilo que seria de esperar de um elemento da Igreja, o resto deixou muito a desejar! Ouvimos coisas como:

• Não se altera a lei que regulamenta o acesso ao casamento civil mas alteram-se todas as outras que são discriminatórias como a lei do arrendamento, a lei do direito sucessório e por aí fora! Mas que trabalheira!
• As pessoas homossexuais têm o direito de se casarem desde que o façam com uma pessoa de sexo diferente! Ai…
• Os bissexuais são pessoas perigosas porque querem casar com um homem e uma mulher ao mesmo tempo! Ai…
• Um tipo sinistro da União das Famílias que dizia que os casais de homossexuais não são "normais", seguido de justíssimos protestos vindos do outro lado.
• Esse mesmo tipo sinistro a dizer que não há estudo nenhum que comprove que uma criança pode ser feliz se for adoptada por um casal de pessoas do mesmo sexo (não "normal" portanto). Ai… ao que Fernanda Câncio referiu e bem que já há muitas crianças adoptadas por pessoas homossexuais porque a lei portuguesa permite a adopção de crianças por pessoas singulares sem descriminação com base na orientação sexual, mas não permite a adopção a um casal de pessoas do mesmo sexo o que é um contra-senso no mínimo legal!
• Um outro tipo que se insurgia contra Daniel Oliveira e furiosamente gesticulava dizendo que não lhe admitia que este o chamasse de homofóbico, quando Daniel Oliveira referia, e bem, que as posições tomadas pelo dito eram de facto homofóbicas, porque intolerantes e discriminatórias.

De referir ainda aquilo que Isabel Moreira contestou ao Padre Vaz Pinto quando este tentou estabelecer uma analogia entre o casamento de pessoas do mesmo sexo e o casamento entre pais e filhos (incestuoso). Em termos jurídicos o casamento incestuoso é anulável com base num "erro" cometido por quem o contrai. Em termos jurídicos ao ser proibido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a lei está a dizer que o próprio homossexual é um erro ao não lhe permitir sequer o acesso a esse direito… por outras palavras a lei que regulamenta o acesso ao casamento civil é uma lei homofóbica e discriminatória.

Falaram muito bem todos os que deram a cara a favor do acesso ao casamento civil por pessoas do mesmo sexo. Frisaram inúmeras vezes que era uma questão de igualdade, de respeito, de dignidade pela pessoa humana em geral e pelos homossexuais em particular. Que esta minúscula alteração da lei irá permitir regulamentar juridicamente uma série de relações que já existem e que continuarão a existir, passando ou não passando a alteração proposta. Que esta alteração não retira direitos a ninguém, não prejudica ninguém, não humilha nem descrimina ninguém, pelo contrário, é uma medida a favor duma maior abrangência em termos sociais. Não põe em causa a continuidade da espécie, não põe em causa a orientação sexual de ninguém e muito menos duma maioria que é e continuará a ser heterossexual.

Tirando os argumentos pouco claros e baseados em crenças religiosas, fiquei sem perceber porque incomoda tanta gente que uma pessoa homossexual tenha o direito de casar com a pessoa que ama! :(

Descoberta de última hora!


Acabei de assistir ao aceso debate na RTP1, "Prós e contras" sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Aceito, em termos religiosos e pessoais, alguns dos argumentos do contra, embora não concorde. Outros porém, são inaceitáveis. Os preconceitos e homofobia ficaram bem patentes em algumas palavras, vincados de tal forma nas suas personalidades que é notório que os próprios autores estão empedernidos de intolerância e azedume.

É por isso que o ponto alto deste programa foi, para mim, quase no final quando a jurista defensora dos prós interpelou a plateia do não, dizendo que um dia aquelas jovens famílias que ali estavam teriam filhos homossexuais. A reacção foi inesperada até para mim, que estou familiarizada com estes debates. O repúdio a essa possibilidade ficou expressa, a certeza dessa impossibilidade também. Terão tomado uma vacina? Podiam ter avisado os meus pais... e já agora tinham uma boa táctica para nem sequer ser necessário este debate: é só vacinarem-se! E pronto, já está, acabaram-se os pervertidos e anormais.

Ahh meu caro Milk, como tinhas razão! Se em cada família, em cada grupo de amigos, em cada empresa soubessem quantos somos, que somos nós também responsáveis pela sociedade que todos construimos, para o bem e para o mal, e que somos só mais uns deles, e que não nos importamos.

Tristes exemplos!

sexta-feira, fevereiro 13


(Via caccaocino)

Enquanto na Califórnia os 18000 casais de homossexuais que conseguiram casar antes da passagem da infame Proposition 8 continuam a lutar para que os seus casamentos não sejam dissolvidos, em Portugal continua-se a achincalhar uma luta de uma comunidade que muitas vezes não consegue ser levada a sério.

Continua-se a associar a homossexualidade á bestialidade e à pedofilia, sem o mínimo respeito por aqueles que lutam pelo reconhecimento e pela dignidade das suas relações.

É pena que este senhor ache que os homossexuais são todos suburbanos que trabalham em cabeleireiros. Por isso é tão importante o apelo a que tod@s se assumam, que mostrem quem verdadeiramente são. Professores, médicos, advogados, engenheiros, gestores, actores, e até governantes, os homossexuais que um dia levantarem a sua voz contra este tipo de achincalhamento irão mostrar ao resto da sociedade que afinal já conhecem muitos homossexuais que admiram, respeitam e de quem gostam!

Só espero que este senhor e todos os outros que gozam com a homossexualidade desta forma se arrependam e se envergonhem das barbaridades que um dia pensaram e escreveram sobre aqueles que são também seus amigos, colegas, irmãos e familiares.

Isto sim é grave!

quarta-feira, fevereiro 11



Ok, a Igreja está apenas a cumprir o seu papel, não concordam com o casamento entre homossexuais e vão apelar ao voto contra os partidos que o defendam (nomeadamente o PS).

Agora o que me espanta é que não ouvi nenhum bispo português pronunciar-se sobre a anulação da excomunhão dos bispos que negam que o holocausto existiu. Este assunto causou indignação a nível mundial porque o holocausto não está em causa nem nunca esteve e a Igreja indignou-se com esses horríveis eventos tanto como qualquer outro ser humano se indignaria!

Este papa, afastando-se claramente da humanidade que caracterizava o chefe da Igreja anterior, duma penada resolve anular a excomunhão desses bispos e ponto final. Autocrático, autista, imperdoável!

A Igreja regride... ao apoiar bispos claramente xenóbofos que exprimem as suas opiniões contra tudo o que o resto do mundo pensa. A seguir virão ataques contra mulheres e inevitavelmente contra homossexuais. Não nos esqueçamos que no holocausto não morreram só judeus! Morreram também milhares de homossexuais!

Se no seio da Igreja foram reabilitados bispos que concordam (ignorando) as barbaridades que foram cometidas pelo III Reich, para onde caminham os supostos ilumidados de Deus?... Não auguro nada de bom deste papa "negro" que já conseguiu destruir um legado tão importante e tão arduamente conseguido ao longo dos anos por esse outro saudoso papa "branco". Não sou católica mas gostava de João Paulo II, era um homem sensível, bondoso, cuidadosíssimo em relação a tudo o que fazia e dizia. Agora este Ratz... enfim!!

Mea culpa!

segunda-feira, fevereiro 9



Bem sei que houve um sentimento generalizado de desgosto em relação à reportagem da Sábado porque tentou vender a infidelidade sob um prisma favorável. Era o tal "branqueamento" de que falei no meu texto em baixo. Foi claramente uma manobra para vender e não me pareceu correcta a forma leviana como quiseram dar a conhecer uma realidade que não será assim tão glamourosa nem sensual como foi apresentada.

Mas também não foi correcto o meu post, fui leviana nos insultos que dirigi de forma generalizada e que atingiram pessoas que não os merecem porque já têm sofrimento quanto baste na sua vida. Por cada mulher casada, que se assume como heterossexual e que se envolve com outras mulheres com a conivência do marido, que até sabe, gosta e se excita com isso, haverá muitas mais que sofrem com o peso da culpa e da traição que sentem estar a cometer. Se calhar a revista Sábado devia ter-se focado mais nestas mulheres, que têm problemas de consciência, que sentem estar a fazer algo de errado mas não sabem como dar a volta à sua vida, que gostavam muito de se assumir mas por inúmeras razões sabem que não o podem fazer por tudo aquilo que está em jogo e podem vir a perder.

E o post que escrevi era na realidade um insulto personalizado... o meu texto devia ter rezado assim: "Conheço uma mulher casada, que se assume como heterossexual e com a qual eu me envolvi há uns anos atrás, que é uma cabra. E o marido dela é um parvo dum cornudo que acredita em todas as mentiras que ela lhe diz." E pronto, foi o meu momento "lavagem de roupa suja em público" pleno de insultos dirigidos a uma mulher muito egoísta que um dia quis o "melhor dos dois mundos" sem pensar nas consequências dos seus actos e sem ter a mínima intenção de se responsabilizar por eles. A reportagem da revista Sábado fez-me revisitar o meu passado e despoletou em mim uma raiva que já não sentia há algum tempo.

Mas, e como em tudo há sempre um mas, infelizmente os meus insultos atingiram outras pessoas e a elas eu peço imensa desculpa. A diferença entre essas pessoas e as verdadeiras "cabras" é que elas sentem um enorme peso na consciência, sabem que estão a agir de forma errada e procuram desesperadamente uma saída para uma situação de duplicidade que as torna infelizes. Solidarizo-me com elas, e mais ainda me enerva esta sociedade de hipocrisia que tenta vender a parte boa das relações extraconjugais sem se focar e aprofundar mais a parte má. Há muitas mulheres a sofrer por esse país fora e eu, feito elefante em loja de cristais, ainda as magoei mais... peço mil desculpas a essas mulheres e desejo-lhes muita sorte e coragem para tentarem encontrar o seu caminho.

Desculpe, afinal sim...

sexta-feira, fevereiro 6


- Está lá? É do ACP. Queria pedir desculpa. Afinal a nossa colaboradora cometeu um grave erro. Para além de distraída é incompetente, tem má vontade e a culpa é toda dela. Nós sempre quisemos cumprir a lei.
- Eu perguntei se ela estava ao corrente da lei... Até insisti para que me passasse ao responsável.
- Bem sei. Isso já está a ser tratado. A senhora tem toda a razão. Peço-lhe desculpa, em meu nome pessoal e do ACP. Lá por ser lésbica pode pagar o seguro e já agora, as cotas!!

Piadas à parte, obtive vários pedidos de desculpa, não só do ACP como da seguradora, mediadora e parceira do clube. Resta-me reflectir sobre quem não reclama, sobre quem se deixa levar pelo caminho que menos trabalho dá e sobre uma questão que me acompanha há muito: tomar, ou não, nas nossas mãos as lutas que a nós dizem respeito. Não é justo para os que dão a cara, para os que se passeiam nas espampanantes marchas, pelos que vão à Assembleia da Républica e pelos que dão beijos na rua, não obterem uma pequena ajuda da maioria de nós. Devemos fazer-lhes justiça, ajudá-los a pôr em prática o que já foi conseguido por eles.

PS: No dia em que publiquei o post sobre o ACP, antes mesmo de o fazer, escrevi um e-mail a reclamar. Respondo assim aos nossos leitores que o sugeriram e muito bem. Não é da minha natureza passarem-me com o carro por cima na passadeira e deixar-me ficar... a menos que fique inconsciente.


O branqueamento da traição



Não sei a quem passou pela cabeça escrever um artigo sobre mulheres casadas que têm casos com outras mulheres. Cheira-me que terá sido um homem pela quantidade de fotografias de mulheres a beijarem-se que aparecem nas páginas da revista Sábado desta semana. Será que precisam assim tanto de aumentar as vendas da revista? Será que este assunto merece assim tanto destaque?

Mulheres que se envolvem com outras mulheres sempre existiram, sendo essas situações mais ou menos bem toleradas consoante as morais vigentes da época. Hoje em dia e provavelmente fortemente impulsionadas pela gigantesca indústria de pornografia essas situações tornaram-se corriqueiras, saltaram dos filmes XXX para filmes e telenovelas que passam em horários em que sabemos que as audiências são maioritariamente constituídas por crianças e adolescentes. Estranhamente não vejo a Igreja a insurgir-se contra a quantidade de barbaridades ditas e mostradas em nome da "abertura sexual" na nossa televisão hoje em dia.

Uma coisa é certa. A mim sempre me disseram para não me meter com mulheres casadas e eu sempre achei que eram de carácter moral duvidoso as mulheres casadas que se envolviam com outras mulheres. Esta reportagem serviu para reforçar ainda mais essa minha convicção.

As mulheres que se dizem heterossexuais, casadas (e algumas inclusive afirmam-se de católicas!) que se envolvem sexualmente com outras mulheres são umas cabras. E tentam branquear a infidelidade que cometem com a justificação inverosímil que os maridos até sabem, gostam, querem ver e participar! Os maridos dessas mulheres, esses que sabem, gostam e querem participar, para além de serem cornudos são uns parvos e uns tristes que não percebem que qualquer traição ou infidelidade é uma tremenda falta de respeito! Essas mulheres que os enganam, que lhes mentem e que os convencem que é tudo muito diferente e que só o fazem para os excitar ainda mais são umas cabras manipuladoras que possivelmente só continuam casadas pelo conforto financeiro que lhes advém dessa situação. E nesse caso para além de cabras estão ao nível das prostitutas de vão de escada!

E para além de tudo o resto essas mulheres estão também a prejudicar a luta pelos direitos dos homossexuais, nomeadamente das lésbicas. Elas fazem questão de sublinhar que apesar de gostarem de se envolver sexualmente com outras mulheres, são heterossexuais e não lésbicas. Consideram as relações entre mulheres como algo menor, talvez apenas "para aquecer", e logo não concebem que essas relações possam estar ao nível das relações entre homens e mulheres e nunca lutarão pelo nosso direito de acesso ao casamento civil, provavelmente muito pelo contrário! A sua postura é tremendamente machista, chegando a raiar a homofobia. Mas também mais não seria de esperar de cabras que põem os cornos aos maridos sem qualquer pejo nem sentimento de culpa.

A única nota relevante numa reportagem carregada de lugares comuns e da perpetuação de mitos sobre a sexualidade das mulheres, e admito que seja uma coscuvilhice de baixo nível, foi confirmar as minhas suspeitas que a actriz Alexandra Lencastre será lésbica. Resta saber se é das simples ou das com gelo...

A importância de Harvey Milk

quarta-feira, fevereiro 4



Fui ver o filme sobre este ilustre político maioritariamente desconhecido entre nós e tão bem representado por Sean Penn que merece sem dúvida o Oscar de melhor actor, não por representar bem o papel de um gay mas por representar duma forma tão convincente o papel de um activista político que assume a sua homossexualidade com uma frontalidade até então desconhecida. Recorde-se que nos anos 70 a homossexualidade nos Estados Unidos ainda era punida com pena de prisão. Não sei (mas confesso que gostaria de saber) o que acontecia aos homossexuais que se assumiam em Portugal antes da revolução de 25 de Abril de 1974. Acredito que seriam presos pela PIDE e provavelmente torturados até "desistirem dessas tendências" ou mesmo até à morte.

Este é o peso histórico que os activistas LGBT carregam nos seus ombros. Estes são os fantasmas do passado que nos fazem recordar que há alguns anos atrás nós não podíamos falar livremente sobre os nossos sentimentos e relações. A humilhação ocupava o lugar do orgulho, o menosprezo o lugar da dignidade.

Nada resume melhor Harvey Milk do que o discurso da esperança que ele proferiu em São Francisco em 1978, pouco antes de ser assassinado. Nada resume melhor Harvey Milk do que a profunda convicção que toda a gente conhece um gay ou uma lésbica, mesmo não sabendo quem são. Podem ser os nossos amigos, os nossos vizinhos, os nossos pais, os nossos filhos, os nossos colegas de trabalho e até os nossos políticos!

Mas os milhares de gays e lésbicas que existem à nossa volta só serão reconhecidos no dia em que eles próprios tiverem a força e a coragem para assumir aquilo que são. O maior grito de guerra de Harvey Milk, para além do grito de esperança que tantas vezes exclamou, foi exortar todos os gays e lésbicas a saírem do "armário", a assumirem aquilo que são sem medo e sem vergonha!

"The blacks did not win their rights by sitting quietly in the back of the bus. They got off! Gay people, we will not win our rights by staying quietly in our closets... We are coming out! We are coming out to fight the lies, the myths, the distortions! We are coming out to tell the truth about gays!" – Harvey Milk

Trad: "Os negros não ganharam os seus direitos mantendo-se sentados na traseira do autocarro. Eles levantaram-se e saíram! Homossexuais, nós não ganharemos os nossos direitos se ficarmos quietos dentro dos nossos armários... nós vamos sair! Nós vamos sair para lutar contra as mentiras, os mitos, as distorções! Nós vamos sair para dizer a verdade sobre gays!"

E é só desta forma, dando os gays e as lésbicas a conhecer ao mundo que os rodeia, que um dia esse mundo irá reconhecer que nós somos iguais aquilo que sempre fomos, porque o mundo já nos conhecia antes de nos assumirmos como gays e lésbicas. E já gostavam de nós antes, e já tinham orgulho em nós antes!

Se há alguma coisa que tenho aprendido nestes últimos tempos, nomeadamente desde que comecei a partilhar experiências através da net, é que o caminho a percorrer até termos os nossos direitos reconhecidos na sua totalidade é muito longo sim, mas há tantos e tantas que já o trilharam antes, e brilharam, e foram bem sucedidos, e foram reconhecidos como melhores do que os seus pares, apesar da sua homossexualidade! Um dia a orientação sexual dum indivíduo será tão indiferente como a cor da sua pele ou o seu género. Esse dia ainda está longe mas eu tenho muita esperança e espero que este cantinho seja um local que transmita esperança a pessoas que por aqui passam em momentos cruciais das suas vidas. Se assim for, se eu souber que transmitimos esperança a pelo menos uma pessoa homossexual que nos leu, já valeu a pena e já sentirei que a nossa luta pelos nossos direitos não irá esmorecer nunca!

Nesses casos...

segunda-feira, fevereiro 2




O Automóvel Clube de Portugal discrimina os homossexuais. (Ponto final parágrafo.)

O ACP tem uma campanha de seguros pessoais (que eu saiba é só uma) que dá vantagens, entre outras, para casais em união de facto. Uma senhora simpática e empenhada em vender telefonou-me e informou-me:

-Fantástico! Enviem lá isso então.
-Ahhhh não, mas para esses casos não.
-Porquê?
-É só para pessoas de sexo diferente!
-Mas isso não está de acordo com a lei...
-Pois, mas não, nesses casos não.

Já estou mesmo a ver, qualquer dia telefono com o carro empanado e se disser que sou lésbica:

- Ahh não, nesses casos não. Os gays e as lésbicas nem deviam andar de carro... nem de transportes. Se calhar o melhor era fazer uma ruazinha só p'ra eles!

E anda a gente a dar dinheiro a estes palhaços. Haja paciência...

 

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