Hermético

terça-feira, abril 8

De carro com a mãe passava eu numa rua de Lisboa e numa parede lê-se o seguinte graffiti “Parem a Transfobia. Panteras Rosa”.

Eu – Sabes o que quer dizer aquele graffiti?
Mãe – Hum! Medo da transformação?
Eu – É quase isso… Tem a ver com transexualidade.
Mãe – Vocês falam em código, e isso não é muito bonito quando falam para pessoas que não compreendem a vossa linguagem. Aquilo passa só a ser uma parede suja.

A minha mãe resumiu perfeitamente o que eu acho do discurso activista (seja em que frente for: feminismo, ambientalismo, etc.) hermético. Acho que mesmo dentro da comunidade há uma imensa dificuldade em compreender a linguagem usada. Continuo a achar que é necessário baralhar e voltar a dar, sobe pena de sermos incompreendidos por culpa própria.

26 comentários:

Cosmopolita disse...

Bem vinda! E com um post cheio de sentido...

Concordo em absoluto com o que dizes. O hermetismo é uma espécie de arame farpado da linguagem com vista a isolar os "iluminados" dos outros.

pegueitrinquei disse...

Bem verdade...

Bj*

Anónimo disse...

Diz-se Graffiti e não Grafite.

Achei piada a este post, pq é exactamente o que se passa com Graffiti. A maioria das pessoas não compreende que um tag tem tanto de tipografia quanto um tipo de letra do pc, logo rotula de vandalismo e chama isto e aquilo a quem os faz. Para essas pessoas é apenas sujidade. Não compreendem o código por de trás de um tag ou de um throw-up, que são códigos utilizados pelos writers.
Quem kiser saber mais sobre a cultura do graffiti informe-se em sites, livros ou writers (nome dado aqueles que pintam), senão nunca mais saio daqui.

Mas o post ta engraçado.

Unknown disse...

Anónimo Juvenal:
Obrigada, erro corrigido!!!

blue disse...

Tem toda a razão. Há que produzir o discurso para tod@s.

Inha disse...

Olha, olha quem voltou a dar um AR da sua graça!! Saudades tuas, barriguinha! Mas, estamos em sintonia? ou quase...!!!
Beijocas!

jc disse...

concordo plenamente contigo. há tantas siglas referentes a tantos activismos que eu próprio, membro integrante do grupo social que reivindica (say what?), não os entendo.

tanta formalização exclui os destinatários da mensagem da sua compreensão. seriedade a mais também é prejudicial. enquanto os paneleiros se ofenderem com quem lhes chama paneleiro, a palavra paneleiro continuará a ser uma ofensa. homossexual é uma palavra demasiado grande para ser dita a torto e a direito. gay é etimologicamente depreciativo. nem todos somos criaturas alegres, reinadias, espirituosas, cheias de tiques.

em relação ao grafitti, não me parece que este seja o espaço para essa discussão. no entanto, para o anónimo esclarecido, dois pontos:

1.grafitti é o termo genérico da arte de "pintar paredes". uma pessoa que faz grafittis, grafita? é que grafitar é o acto de cobrir uma superfície com grafite. ai o acordo ortográfico...

2.como nem todos somos picassos, nem todos são basquiats. e meu amigo, muito do que se faz pelas paredes do nosso país não é mais que puro VANDALISMO gratuito.

Morgana disse...

i really was missing you *

Siona disse...

Sabes que a maioria das pessoas LGBT que conheço não sabem o que LGBT quer dizer? O discurso é hermético (mas também um discurso mais específico torna-se), as associações vão-se distanciando do LGBT médio, e é por causa disso que o associativismo tem menos participação da que podia (e devia!).

A maior parte do trabalho a fazer passa por aí, pelas bases, as palavras, os conceitos elementares, para a comunidade, e para fora. E até é aquilo que é mais engraçado, que é um contacto humano, e que passa por escrever em blogs, ou pegar em cervejas ao fim da tarde e ir falar com as pessoas ;)

(e welcome back, AR ;)

Siona disse...

E, desculpem o desabafo, mas as pessoas que fizeram o grafitti já fartam a comunidade transsexual portuguesa... gostamos imenso que haja pessoas a lutar ao nosso lado, pelos nossos direitos, mas não a lutar, nem falar, por nós, que é o que as Panteras Rosa têm feito, com muita arrogância e paternalismo à mistura. Somos boas, e bons, para morrer, mas não para falar por nós próprios, ou tomar decisões quanto à imagem a veicular à sociedade da nossa comunidade, ou às reivindicações a fazer; não existe uma só pessoa transsexual portuguesa que apoie os disparates que as Panteras têm feito.

Entre os muitos feitos está isto. Numa manifestação para honrar (?) a memória da Luna, que era transsexual, e foi encontrada morta numa lixeira em Loures, uma Pantera Rosa decidiu levar um engraçado desenho nas costas do casaco. Engraçado, mesmo!

Who?... Me?... disse...

Ola. Venho ao vosso blog porque a minha amiga Jotinha me contou a sua preferencia sexual e eu, que nunca tinha conhecido uma pessoa lesbica, fiquei um pouco confusa. O vosso blog tem me ajudado a compreender melhor as coisas, mas quando começam a falar de LGBT, Panteras Rosa e transfobia deixam-me um pouco perdida. Eu sei que o blog é maioritariamente para voces comunicarem as vossas preocupações e ideias, mas podiam ser um pouco mais claras para nós, que queremos conhecer melhor a vida e as preocupações daqueles por quem sentimos tanto carinho, possamos compreender o que escrevem.
PS- Venho cá TODOS os dias e gosto muito do blog. :)

indigo des urtigues disse...

Um post que faz pensar, sim..:)
Infelizmente n1 paìs conhecido pela pouca literacia, pouco interesse do cidadão para procurar informação,seja ela de que matéria for, pouco interesse pelo activismo, voluntariado, há termos, palavras desconhecidas, causas e mesmo valores...democratizar mais a linguagem? simplificar, ajudaria? :)

ah e welcome back AR :)

Duca disse...

Absolutamente de acordo. Se queremos ser entendidos devemos usar uma linguagem clara e que chegue à compreensão de todos.

Bem-vinda linda. Já tinha saudades tuas. :)

Beijo

Estrelaminha disse...

Concordo em absoluto. No meu caso que estou "deste lado" à pouco tempo, por vezes não entendo a linguística utilizada, metáforas e ironias.
Já tardava o seu regresso. ;o)

underadio disse...

: )
E, sei lá, assim de repente lembrei-me das discussões q tive com um grupo de hip-hop q agenciei, faz muitos anos...

Q bom teres regressado!

Anónimo disse...

Tantas saudades... tantas!
Que bom teres voltado AR!
Olha, assino em baixo!!!
Vamos lá a pôr isto em ordem!
É que para quem foi hetero durante anos e descobre que é Bi, é tudo um bocadinho confuso.
Bora lá descomplicar.
Bjs
Mi

desabafos disse...

Que saudades da tua escrita (sem desprimor para os restantes elementos da lésbica team). Muito bem vinda. Mais um post a deixar que pensar.

Anónimo disse...

AR be welcome....Juntamente c as outras assinantes vens a enriquecer o blog d qual m orgulho referenciar, nas minhas conversas. Excelente post. SHANE.

Unknown disse...

Tod@s:

Obrigada pelas boas vindas, confesso que já tinha saudades, mas ando meia desinspirada... A ver no que dá!!! Gracias tanto...

Mente Assumida disse...

Não é que o post não tenha algum fundo de verdade e não ponha o dedo numa ferida que, de facto, existe no activismo LGBT. Hoje é GLBT, amanhã é LGBT; hoje é LGBT, amanhã é LGBTI; hoje é transsexual, amanhã é transgénero; hoje é orientação sexual, amanhã é identidade sexual. Certíssimo, já todos passámos por lá, já todos nos sentimos desactualizados em questões que nos são tão caras e pensámos «que grande salgalhada!».

Mas isso não me parece, honestamente, obstáculo a que se passe uma mensagem. O problema que levanta é apenas o da constante "actualização" dos termos em função dos estudos que vão sendo feitos, em função da tentativa de adoptar um discurso que seja o menos ofensivo e discriminatório possível e, simultaneamente, mais abrangente e próximo da realidade.

Quando dizes «Acho que mesmo dentro da comunidade há uma imensa dificuldade em compreender a linguagem usada.», eu até concordo contigo, mas acrescento, se me é permitido, duas ideias.

A primeira para questionar: será que podemos mesmo falar em "comunidade LGBT"? Será que esse sentimento existe ou "a comunidade" não passa de uma ideia romântica em torno de uma união meramente imaginária?

A segunda para afirmar: onde não há vontade de compreender, não há linguagem que lhe valha. Enquanto os LGBT forem os primeiros a não ler, a não ouvir, a não se interessar por assuntos que lhes dizem directamente respeito, pela cultura e pelo pensamento lGBT, não há linguagem, por muito simplista e uniforme que seja, que faça o trabalho de casa de cada um de nós.

Hermética não é tanto a linguagem como, infelizmente, ainda é o entendimento. Quem quer (e deve) compreender tem obrigação de estudar, de se informar, de se actualizar.

Eria disse...

Meu amor, benvinda, benvinda, benvinda!!!!!
Que bom ter-te de volta!
Temos de marcar uma tertúlia caseira!
Bacci

Memory disse...

Bem regressada à blogesfera, e inspirada ou não o pessoal anseia sempre pela tua presença neste vosso blog.

Quanto ao post estas cheia de razão. É isso mesmo.

Um abraço

Pedro Almeida disse...

Posso lançar uma discussão ?
Sou totalmente a favor da igualdade de direitos entre homosexuais e heterosexuais, em tudo, mesmo na adopção de crianças (parece ser a coisa mais polemica para a sociedade), portanto homofobico acho que não serei, aliás até acho que as pessoas apesar de terem uma tendencia para escolherem parceiros de determinado sexo, na verdade apaixonam-se é pela pessoa independentemente do seu sexo.
Tendo dito tudo isto...cá vai o choque:
Considero a transexualidade um desvio do foro psicológico, assim ao tipo da anorexia ou aqueles fanáticos do culturismo ou quem faz dezenas e dezenas de operações plásticas.
Só consigo compreender a necessidade de alguém mudar assim tão radicalmente o seu próprio corpo através de um distúrbio psicológico.
Eu sendo homem posso perfeitamente gostar de outros homens, de fazer sexo com outros homens...mas para que preciso de uma vagina ??? Temos que gostar do nosso corpo, com todas as suas imperfeições.
Não tenho nada contra com quem muda de sexo, as pessoas devem ser livres de o fazer, mas lá que não o considero algo de saudável, não o considero.

Unknown disse...

Mente Assumida:

Também me interrogo quanto à comunidade.
Agora quanto ao resto, continuo a achar que metade do papel do activismo é tornar uma dada ideia, linguagem, conceito, etc. "mainstream" e com uma linguagem demasiado especifica perde-se a mensagem que se quer passar. De toda a forma na generalidade concordo contigo...

Eria e Memory:
Obrigada, beijos :)

Pedro:
Esse é um assunto que podes e deves discutir, ler e perguntar no blog "fishpeaker" (ali ao lado nos blogs com gelo)...
De toda a forma sabemos bem que és um simpatizante :)

jc disse...

a mim parece-me que a nomenclatura se torna desnecessária quando a atitutde é a correcta.

como este senhor:

http://ontheroadtosomewere.blogspot.com/2008/04/activismo-sria.html

Anónimo disse...

Realmente tu fazes muita falta!!! Quem é que consegue passar uma hora de almoço sem ler as notícias e dar aqui um pulinho???

Finalmente de regresso, espero que agora seja para ficar.

Um beijo carinhoso e saudoso