segunda-feira, outubro 30
Se alguém me dissesse, antes daquela tarde fatídica de 2001, que eu me ia apaixonar por uma mulher a minha resposta seria "ah ah ah ah". Não porque achasse que me fossem cair os parentes na lama (se caissem o que tinham de fazer era ir tomar uma banhoca para se limparem) mas porque nunca tal me tinha passado antes pela cabeça.
Nesse dia fatídico estava a trabalhar, era um dia igual a tantos outros (infelizmente). Ligaram-me do escritório...
tttrrrriiiimmmm ttttrrrrriiiiimmmm (é sempre melhor dar este toque de realismo à coisa e colocar a simulação do toque do telemóvel)
Director - Já podes vir buscar o teu carro de serviço, está aqui na garagem.
Eu- Ok. Passo quando sair aqui de Miraflores.
Rapidamente comecei a pensar como é que me iria safar com dois carros. Bom, sendo que eram os dois cabrios talvez fosse possível um autêntico acto de acrobacia e contorcionismo.
Não havia outra solução, iria ligar à única pessoa da empresa com quem eu tinha alguma afinidade e confiança apesar de só a conhecer há poucas semanas, afinal tinha começado a trabalhar naquela empresa há pouco mais de duas semanas...
tttrrrriiiimmmm ttttrrrrriiiiimmmm (na altura ainda não havia ring dings)
Ela - Olá
Eu - Olá, preciso de uma favor (digo eu logo à bruta)
Ela- Claro, diz lá.
Eu - Preciso que venhas ter comigo aqui a Miraflores para depois passarmos na Lapa para irmos buscar o meu carro de serviço.
Ela - Mas precisas que eu vá?
Eu - Tenho aqui o meu carro. Preciso depois de trazer os dois. Passamos em minha casa, deixamos um deles e depois deixo-te em casa.
Ela- Ok, estarei aí às seis e tal.
E lá continuei a trabalhar!
Às seis e tal levanto a cabeça do monitor do computador e vejo-a entrar pela sala de reuniões dentro. O que senti nesse momento nem sequer é passível de uma descrição com cabeça, tronco e membros. Assim que a vi o meu pensamento foi "pimba, já estás". Nesse momento deparei-me com o porMAIOR de me ter apaixonado por uma mulher. E agora?? Bom, agora vamos lá buscar o carro porque é para isso que cá estamos.
E fomos as duas no meu carro a falar sobre trabalho e sobre tudo e sobre nada. Eu a tentar controlar-me. Fizemos o planeado e ao chegar a casa dela para a deixar saiu a pergunta fatídica "queres entrar e ver as obras?"... eeerrrrr... "não", respondi rapidamente e pus-me a milhas!!!
Ora bem, eu estava perante três problemas... primeiro: tinha acabado de me apaixonar por uma mulher e tive que lidar com todo o turbilhão de sentimentos que isso implica, segundo: não fazia ideia se ela pertencia ao clube, e terceiro: eu sabia que ela tinha alguém.
Resolvi dissecar cada um dos problemas separadamente.
Primeiro: certo que apaixonar-me por uma mulher nunca me tinha passado pela cabeça mas também não ia transformar isso num drama. Desde o primeiro minuto que resolvi assumir isso como sendo o mais natural dos sentimentos e desde então sempre agi de igual forma quer estivesse com uma mulher ou com um homem... PROBLEM SOLVED
Segundo: em que clube jogaria ela?? Isso até que nem era relevante porque o terceiro problema anulava este.
Terceiro: ela tinha alguém. Portanto, sai de cena quem não é de cena e eu decidi que ficaria sossegada!
So far so good... ah pois... nas semanas que se seguiram foi uma dança de sedução de ambas as partes (confesso que da minha parte muitas coisas foram inconscientes e disseram-me que mandei mensagens que eu juraria que não tinha enviado).
Algures numa noite (já bem tade)...
Ela - Não queres vir aqui a casa? Estou a acabar um trabalho e apetece-me conversar.
Eu - Bom, já estou deitada mas vou tomar duche e vestir-me e daqui a pouco já te ligo para me abrires a porta.
E lá fui... às tantas da manhã o diálogo das duas, deitadas em cima da cama de solteira dela, foi...
Ela - Tu já percebeste, não percebeste?
Eu - Que o teu namorado é uma namorada?
Ela (a sorrir) - Sim.
Eu - Há algum tempo que percebi.
Ela - E então?
Eu - Então o quê? Não me incomoda que seja uma namorada mas incomoda-me que tenhas namorada.
Ela - Tu atrais-me. Não me és indiferente.
Eu (a fugir para a outra ponta da cama) - Pois, mas o melhor é pararmos por aqui porque senão vai haver merda.
E adormecemos.
No dia seguinte acordamos, almoçamos com os pais dela e depois voltamos para o sotão (o quarto dela, do qual ainda me lembro todos os pormenores).
Ela - Vou beijar-te
Eu (a fugir) - Não, não vais.
Ela - Vou.
Eu (já encostada ao armário e sem saber onde me enfiar). Não.
E beijou-me. E beijei-a. E beijamo-nos.
Depois nada mais foi igual na minha vida. Não mudou para melhor ou para pior. Mudou, simplesmente.
E o armário? Bom, no dia em que ela entrou pela sala de reuniões dentro foi o dia em que entrei no armário e foi também o dia em que rebentei com a porta para sair!
* Eu diria mais comboio mas tenho mais hipóteses de sobrevivência se for por um camião
** Estar dentro do armário e ser claustrofóbica é algo totalmente incompatível e como tal assim que me vi lá dentro CATRAPUM, rebentei com a porta... à bruta mesmo
(mais uma contribuição da Bifinha)
Nesse dia fatídico estava a trabalhar, era um dia igual a tantos outros (infelizmente). Ligaram-me do escritório...
tttrrrriiiimmmm ttttrrrrriiiiimmmm (é sempre melhor dar este toque de realismo à coisa e colocar a simulação do toque do telemóvel)
Director - Já podes vir buscar o teu carro de serviço, está aqui na garagem.
Eu- Ok. Passo quando sair aqui de Miraflores.
Rapidamente comecei a pensar como é que me iria safar com dois carros. Bom, sendo que eram os dois cabrios talvez fosse possível um autêntico acto de acrobacia e contorcionismo.
Não havia outra solução, iria ligar à única pessoa da empresa com quem eu tinha alguma afinidade e confiança apesar de só a conhecer há poucas semanas, afinal tinha começado a trabalhar naquela empresa há pouco mais de duas semanas...
tttrrrriiiimmmm ttttrrrrriiiiimmmm (na altura ainda não havia ring dings)
Ela - Olá
Eu - Olá, preciso de uma favor (digo eu logo à bruta)
Ela- Claro, diz lá.
Eu - Preciso que venhas ter comigo aqui a Miraflores para depois passarmos na Lapa para irmos buscar o meu carro de serviço.
Ela - Mas precisas que eu vá?
Eu - Tenho aqui o meu carro. Preciso depois de trazer os dois. Passamos em minha casa, deixamos um deles e depois deixo-te em casa.
Ela- Ok, estarei aí às seis e tal.
E lá continuei a trabalhar!
Às seis e tal levanto a cabeça do monitor do computador e vejo-a entrar pela sala de reuniões dentro. O que senti nesse momento nem sequer é passível de uma descrição com cabeça, tronco e membros. Assim que a vi o meu pensamento foi "pimba, já estás". Nesse momento deparei-me com o porMAIOR de me ter apaixonado por uma mulher. E agora?? Bom, agora vamos lá buscar o carro porque é para isso que cá estamos.
E fomos as duas no meu carro a falar sobre trabalho e sobre tudo e sobre nada. Eu a tentar controlar-me. Fizemos o planeado e ao chegar a casa dela para a deixar saiu a pergunta fatídica "queres entrar e ver as obras?"... eeerrrrr... "não", respondi rapidamente e pus-me a milhas!!!
Ora bem, eu estava perante três problemas... primeiro: tinha acabado de me apaixonar por uma mulher e tive que lidar com todo o turbilhão de sentimentos que isso implica, segundo: não fazia ideia se ela pertencia ao clube, e terceiro: eu sabia que ela tinha alguém.
Resolvi dissecar cada um dos problemas separadamente.
Primeiro: certo que apaixonar-me por uma mulher nunca me tinha passado pela cabeça mas também não ia transformar isso num drama. Desde o primeiro minuto que resolvi assumir isso como sendo o mais natural dos sentimentos e desde então sempre agi de igual forma quer estivesse com uma mulher ou com um homem... PROBLEM SOLVED
Segundo: em que clube jogaria ela?? Isso até que nem era relevante porque o terceiro problema anulava este.
Terceiro: ela tinha alguém. Portanto, sai de cena quem não é de cena e eu decidi que ficaria sossegada!
So far so good... ah pois... nas semanas que se seguiram foi uma dança de sedução de ambas as partes (confesso que da minha parte muitas coisas foram inconscientes e disseram-me que mandei mensagens que eu juraria que não tinha enviado).
Algures numa noite (já bem tade)...
Ela - Não queres vir aqui a casa? Estou a acabar um trabalho e apetece-me conversar.
Eu - Bom, já estou deitada mas vou tomar duche e vestir-me e daqui a pouco já te ligo para me abrires a porta.
E lá fui... às tantas da manhã o diálogo das duas, deitadas em cima da cama de solteira dela, foi...
Ela - Tu já percebeste, não percebeste?
Eu - Que o teu namorado é uma namorada?
Ela (a sorrir) - Sim.
Eu - Há algum tempo que percebi.
Ela - E então?
Eu - Então o quê? Não me incomoda que seja uma namorada mas incomoda-me que tenhas namorada.
Ela - Tu atrais-me. Não me és indiferente.
Eu (a fugir para a outra ponta da cama) - Pois, mas o melhor é pararmos por aqui porque senão vai haver merda.
E adormecemos.
No dia seguinte acordamos, almoçamos com os pais dela e depois voltamos para o sotão (o quarto dela, do qual ainda me lembro todos os pormenores).
Ela - Vou beijar-te
Eu (a fugir) - Não, não vais.
Ela - Vou.
Eu (já encostada ao armário e sem saber onde me enfiar). Não.
E beijou-me. E beijei-a. E beijamo-nos.
Depois nada mais foi igual na minha vida. Não mudou para melhor ou para pior. Mudou, simplesmente.
E o armário? Bom, no dia em que ela entrou pela sala de reuniões dentro foi o dia em que entrei no armário e foi também o dia em que rebentei com a porta para sair!
* Eu diria mais comboio mas tenho mais hipóteses de sobrevivência se for por um camião
** Estar dentro do armário e ser claustrofóbica é algo totalmente incompatível e como tal assim que me vi lá dentro CATRAPUM, rebentei com a porta... à bruta mesmo
(mais uma contribuição da Bifinha)
19 comentários:
Fizeste-me sorrir tanto..e lembrar-me de mim..também tenho pensado muito na minha «coming out story»... :)
Conheci uma mulher que me mudou a vida completamente...mudou a forma como olho o mundo..abanou e baralhou tudo aquilo em que eu acreditava ser possível para mim...lembro-me que o que senti, na 1a vez que a vi, foi um desejo tão incontrolável que agora o guardo com tanto carinho por ter sido puro e novidade para mim...sentir-me atraída por uma mulher..realmente foi algo que me tirou o sono durante algum tempo, foi tão estranho e tão espontâneo que nem consigo achar palavras para o descrever realmente...quis tê-la,senti-la como mulher, esquecendo todos os preconceitos que sempre viveram na minha cabeça..
My coming out story... :)
Um dia conto melhor como foi.. ;)
Adorei a tua, mesmo...
Adorei... Não tenho um coming out assim tão emocionante, pk desde sempre se mostrou algo normal em mim.
Tens uma boa maneira de partilhar pequenas partes de ti ;)
Beijocas
Lamentavelmente, a minha revelação foi um fiasco… os Madredeus esgalhavam no “Pomar das laranjeiras” numa bela tarde de Maio, eu olhei pelo rabinho do olho para a minha melhor amiga, caramba que vi como uma Cleópatra, uma deusa, achei-a linda de morrrrrrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!
Nem pensei, atirei-me na ousadia de beija-la sem aviso…
Ela correspondeu…
E, a meio do beijo pensei em puro pânico: “TOU A BEIJAR UMA RAPARIGA!!!!AHAH”
Mas continuei a beijar…
No caminho para casa sentia o coração na boca e só pensava:”OH DEUS! E AGORA???”
Agora 15 anos depois ( já não estou com a mesma pessoa) já não penso se estou a beijar uma rapariga, penso que estou a beijar a pessoa que amo…
Libertine, tu és a tampa do meu tacho!
Desculpem lá, foi um desabafo!!
Gargalhadas, fartei-me de rir, está muito bem contado:)
Muito gosto eu da forma como escreves, AR!
No post da blue já disse como me deixei seduzir pela primeira mulher da minha vida. Portanto, vou apenas referir como rebentei com a porta, apesar de nunca ter estado no tal do armário. Os meus pais sempre foram desempoeirados, graças a Deus!
Como ainda estava na fase bissexual, cheguei a casa e abruptamente disse à minha mãe que descobrira que também gostava de raparigas. A minha mãe ficou um tempo em silêncio e com um ar mais ou menos de pânico disse-me: "Cruzes, filha, se antes tinha meio Portugal a ligar cá pra casa, isso significa que agora vou ter Portugal inteiro? Já falaste com o teu pai?"
Seguiu-se o meu pai que sentado num cadeirão a ler e a saborear um conhaque me perguntou: "Passa-se alguma coisa?" "Nada de especial" disse eu "Apenas quero dizer-te que descobri que também gosto de raparigas." O meu pai olhou para mim e com um sorriso malandro a bailar-lhe nos lábios disse-me "Sempre disse que saías a mim! Tens bom gosto, filha!"
Voilá, simples e sem dramas. Mas também foi assim porque, como disse, tive a sorte de nascer no seio de uma família com uma mentalidade nada preconceituosa, o que é raríssimo.
Oh, Duca! Agradeço a simpatia... Mas quem escreveu este texto foi a Bifinha!
Bem ganda familia... Gosto da tua história....
AR
A última frase passou-me ao lado, pelo que lamento o lapso e apresento o meu pedido de desculpas à Bifinha, aproveitando para lhe dar os parabéns pelo texto e pela forma como saíu do armário. Às vezes é mesmo preciso rebentar a porta.
No entanto, reafirmo que gosto do que escreves, AR. :))
Ainda hoje, quando sei de tantos dramas por que passam várias pessoas, por serem diferentes, agradeço a sorte que tive. :)
Não, não venho contar a minha primeira vez porque apesar de ser um "mostrengo terrífico";) esta é uma daquelas experiências que guardo carinhosamente (sim, às vezes sou carinhosa) no meu coração. Venho apenas dizer que gostei desta história que apesar de ser idêntica a outras não deixa de ser tocante.
Quanto ao arrombamento da porta, espero que a Bifinha não tenha utilizado os punhos (depois ficam a doer) e sim o belo do pontapé, é muito mais eficaz e alivia imenso a alma.
AHAHAHAHA.....genial....genial!!!
Conseguimos (re)ver todos esses passos!!!
Parabens....ainda a rir!!!
;)
Bom feriado
"Alivia imenso a alma"... é acreditar em quem percebe do assunto!
E sendo carinhosa, sabe ser sensível!? O peso na alma se calhar é remorso...!
Infelizmente, a minha história não foi tão feliz...Foi um "abrir de olhos", uma tomada de consiência e um choque. Actualmente, e desafortunadamente, não sei prever o Futuro...
No entanto, sorri, e muito, com o texto e talvez um dia...
Bissous
deliciosamente devastadora... a tua história.
abraço!
________________________
Estou a adorar conhecer melhor o mundo da homossexualidade feminina através deste blog.
Na minha vida sempre me cruzei com mulheres que me atraíam imenso, mas como sempre vivi muito longe da homossexualidade nunca identifiquei estes sentimentos como tal... infelizmente. Na verdade não os entendia muito bem.
Neste momento vivo uma paixão virtual (nunca me tinha acontecido tal coisa, uma paixão virtual!!) com uma mulher. De repente despertou algo em mim que sinto que estava apagado! Dou por mim na rua, em cafés, etc, a olhar para mulheres!
A verdade é que é fantástico... não sei... sinto-me bem com esta mudança.
Por isto, as vossas histórias confortam-me e dão-me animo! Tanta gente que já passou por estas inquetações! Tenho pena de não conhecer mais gente assim... não sei se sou muito fechada, se estou presa num meio exclusivamente hetero... hmmm não acredito... se não sou atenta... não sei. Mas penso que há muita gente nesta minha situação. Aonde é que voces andam??!! :)
Bjs e parabéns pelo blog
Mary:
Gracias pela simpatia!
Nós andamos por aí... Na noite é mais fácil encontrar-nos em sitios especificos, de dia diluimo-nos bem no meio dos outros e torna-se mais complicado identificar-nos. Mas no Bairro Alto e em festas temáticas como a Lesboa, ou a festa da Mulher Aranha, encontras de tudo... É uma questão de procurares com atenção...
AR, obrigada pela resposta. :)
mary:
You are wellcome! :)
Mary, Contacta-me! Talvez possamos ir juntas. Sinto-me como tu!
leila.ali@sapo.pt
Foi um dia inesquecivel... não resultou... mas ADORO-TE! é bom ter-te por perto! e estar por perto!
beijo
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