segunda-feira, outubro 8
Ir ao ginecologista é uma tortura daquelas chinesas. A posição fantástica de "perna aberta" naquela cadeirinha, deixa-me com ataques de ansiedade durante uma semana. Mas a minha parte favorita é o questionário... Começa com a pergunta sobre a idade, se se tem relações sexuais e se sim que contraceptivo se usa. Ora, é aqui que começam os problemas. A primeira vez que fui ao ginecologista, aos vinte anos, respondi que não usava nenhum e o senhor doutor resolveu dar-me um sermão que durou toda a consulta (inclusive quando estava na referida posição). O discurso abordou, entre outras, a hipótese de um dia aparecer ali com a minha mãe para fazer um aborto! Blá, blá, blá... Decidi desde então não ocultar mais a minha orientação sexual. E foi a loucura! Já tive de tudo! Devo andar a acertar nos melhores!
Dez anos mais tardes e mais alguns episódios giros entretanto, lá vou eu para mais uma consulta, desta vez com experiência como nunca. Tinha as respostas às perguntas possíveis todas estudadas. Muito calmamente disse-lhe que não usava contraceptivos porque era lésbica. Então a médica perguntou-me se já tinha estado com um homem. Fiquei logo à espera do pior. Respondi-lhe que não ao que ela reage dizendo muito certa "ah, então é virgem!" Pronto!!! Pensei, cá vamos nós mais uma vez... "Não propriamente", respondi. "Mas tem penetração?!!" Os meus olhos já quase saiam das órbitas e eu do consultório. "Estou a fazer-lhe estas perguntas porque preciso saber como a vou observar!" - não fosse aquela preciosidade romper-se aos trinta e tal anos! Lá lhe respondi que me observasse à vontade e que lhe assegurava que não era virgem.
Pensei enviar-lhe um manual qualquer que a ajudasse mas depois achei que não valia a pena. Se não lhe calharam lésbicas até então seria provável que não tivesse mais nenhuma durante a sua extraordinária carreira! Fiquei também muito preocupada com a sua vida sexual que deve ser muito monótona já para não falar da sua formação profissional.
Depois desta fiquei imune a disparates. A senhora até ajudou...
24 comentários:
Ontem mesmo estava a conversar com umas amigas sobre as idas ao ginecologista e as atrapalhadas que acabamos vivendo nessas consultas. Eu mesma já ouvi a mesma resposta "Ah, então é virgem". Dureza...
e eu a pensar que essas idas eram sempre monótonas... :-)
Nunca tinha pensado na ida de uma lésbica ao ginecologista, talvez porque aquilo já é tão desagradável e intrusivo (não só a nível físico!), que não me ocorreu que pudesse ser ainda pior. "ah, então é virgem" é demais! Mais um produto de uma sociedade falocêntrica...
Parabéns pelo blog, gostei! :)
Pois é... aqui no Rio de Janeiro já passei por várias situações exatamente assim.
Desde o famoso "ah, então é virgem!", passando pelo sermão durante toda consulta sobre a importância dos contraceptivos até um médico que, ao saber da minha "virgindade", começou a falar que eu deveria me liberar.
Mas depois de tanto trocar de ginecologista, finalmente achei um ótimo, que me trata como uma pessoa normal, como realmente sou.
Adorei o blog!
volto a fazer a pergunta...Como praticam as lésbicas o sexo seguro?
Será que é desta que alguém me responde, ou é assim tão descabida a pergunta?
Quem:
Não é de todo descabida a pergunta... Se bem que é muito idêntica ao sexo seguro das hetero quando se trata de usar "toys", sexo oral ou masturbação mútua! Querendo isto dizer que o cuidado deve ser identico para lésbicas ou hetero... De toda a forma neste blog existe um post que lhe responde parcialmente ao que pergunta, datado do dia 24 de Julho 07...
De forma mais rápida e com menos humor, no sexo oral deve usar-se os "dental dam", nas mãos luvas cirurgicas, nos "toys" preservativos, tal como o deveriam fazer as hetero que com os seus parceiros tenham estas práticas...
Lápis-lázuli:
Ainda estou para encontrar a ginecologista da minha vida, aquela que me trate como uma mulher lésbica, sem mais...
Mas a tarefa tem-se mostrado dificil... Se alguém quiser partilhar info de boas ginecologistas, ou bons (tanto se dá para o caso) faça o favor que eu agradeço!
LOLOLOL! Só resta rir. Partilhamos o msm terror a esses objetos d tourtura medieval(os d dentistas tb m fazem arrepios.
Ouvi um zum-zum sobre uma possivel partilha de nomes de ginecologistas "lgbt friendly" através da rede ex-aequo...vou tentar saber mais...
Adorei o post! :) (como sempre..duhh!)
Ehe, é a tortura de todas nós realmente. Também tenho uma ginec nova (ainda só lá fui uma vez) e também já lhe disse que ando com uma menina. Vá lá que ela não me veio com histórias de virgens, se bem que suspeito que deve ter pensado nelas, com o de tia mor que ela tem...
E também apoio a divulgação de ginecs friendly! Mas, ao contrário da ar, acho que prefiro mesmo só dras. No feminino, quero eu dizer. What can I say?:p
Moças que tal uma gyn. lés??????
;)
obrigada ... estava com algum receio de colocar a pergunta porque da última vez que falei com uma amiga (lesbica) e lhe perguntei isto ela respondeu: ops...parece que não pratico sexo seguro. E eu fiquei preocupada, só isso.
bjs
Ora nem mais! Parece de propósito. No meu blog acabei de escrever sobre os mitos da sexualidade feminina e do sexo entre lésbicas. E linkei este post exactamente para chamar a atenção para a ignorância de muitos médicos ginecologistas.
E então? Ginecologistas lesbian-friendly-and-understanding? É que eu ando a ponderar (tipo, desde há dez anos para cá) que não era mal pensado ir a uma... Viz?
Eu cá nestas coisas com ferramentas medievais manipuladas por médicos, prefiro mil vezes a competência que a orientação sexual da especialista!
A minha ginecologista que é da minha idade, casada, com filhas crescidas, e que para além disso é também operadora no IPO nunca me fez perguntas destas e abordou sempre de uma maneira extremamente normal a minha homosexualidade...
É cara, mas é competente, humana e não preconceituosa.
Podias ter-me perguntado Citadina! ;)
Eu nunca fui a uma ginecologista...nem a nenhuma médica sequer...mas gostava.
Olá!
Fui há coisa de 1 mês à ginecologista, com esses arrepios todos que dá durante uma semana, é de facto muito desconfortável! Como me desleixei e já não ía há um tempo decidi ir a uma recomendada por uma amig, achei excelente e dp de leer isto, mais excelente ainda!!! Comecei por dizer que era lésbica, só me preguntu que tipo de penetração fazi para saber como me iria observar, mas tudo super natural!
Recomendo fortemente!
Beijinhos
lolo
tb tive um episodio semelhante!!! pareceu-me irreal, que uma médica e uma mulher do século xxi, não perceba quando lhe digo que apesar de nunca ter estado com um homem, nao sou virgem!!! meu deus...
mas eu expliquei tao bem, que ela ficou ,muito curiosa, curiosa até demais!! se não tivesse uma mulher fantastica lá em casa, dava-lhe umas aulas praticas!!!
tudo para bem da sua carreira claro... :)
Olá cara,
Estou aqui do outro lado do oceano, no Brasil, lendo seus posts e me divertindo.
Ótimos textos.
Apareça: www.nacurvadostrinta.blogspot.com
Abraços,
S.
adorei esta história. efectivamente a ignorância ( e estou a falar de pessoas diferenciadas) é uma coisa tramada!
bem descrita. bem passada a mensagem. um blog sem preconceitos.
força!
beijo
B.
ainda que jamais tivesse havido penetração, o interessante é observar como a idéia de que sexo só é sexo quando há penetração encontra-se impregnada mesmo na cabeça daqueles que, digamos assim, têm estudos e desenvolvem suas atividades em áreas relacionadas ao sexo, como é o caso da ginecologia.
são aqueles famosos padrões heternormativos que costumam encaixar em tudo quanto é relação a figura de um homem e de uma mulher. esta não é a primeira vez que ouço (leio) alguém comentar do incoveniente que se deu em uma consulta como essa.
sem dúvida existe uma falta muito grande de preparação por parte desses profissionais, principalmente no que diz respeito à desconstrução daquela velha idéia de que o sexo entre lésbicas é cem por cento seguro.
na maioria das vezes, o que vejo nesses casos são pacientes que sabem mais do que aqueles que estão em uma postura que lhes dão o direito de orientar. daí essa vontade, mesmo, do dar de presente um manual. rs.
por fim, resolvi comentar pois estive procurando algumas coisas sobre o assunto. o texto foi muito bem escrito e, bastante diferente de muita coisa que vi por aí, não precisou recorrer à vulgaridade para dizer exatamente aquilo que se queria dizer. muito bom. gostei de verdade.
abraços,
(=
A questão é, os ginecologistas consideram a penetração por conta do rompimento do hímen, isso determina se ele nos examinará com ou sem espéculo. Vou no mesmo ginecologista desde a adolescencia e nunca passei por situações constrangedoras mesmo sendo lésbica. Não fui penetrada por um penis propriamente dito, mas não tenho mais o hímen, oq me caracteriza como uma "não virgem" aos olhos do médico. Enfim, espero que tenham sorte na busca de um bom profissional, mas minha dica é, encare você mesma sua sexualidade com naturalidade, qnto mais rodeios fizer pra revelar isso ao médico mais constrangida vc e ele vão ficar.
Beijos :*
O meu ginecologista é o Dr. Rui Carvalho em Lisboa e é excelente e super-profissional. Na primeira consulta disse-lhe logo que era lesbica e ele reagiu tao naturalmente como em todas as outras questoes. Five Star. Estava nervosa quando me veio observar mas foi muito paciente e nao custou nada. Recomendo.
Tenho 27 anos,hoje fooi minha 1ª vez ao ginecologista,eu bem que não queria ir pois tudo aconteceu como estava pensando, falei logo para a gonecologista que eu era lésbica sabe o que ela me respondeu???
Que no momento estava sem aparelho para virgem,achei isso tão chocante,eles pensam só por que não temos vidas sexuais com homens que somos virgem.Eu hein
bjos xau
amei tudo isso e rir muito tbm...
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