"I Have a Dream"

segunda-feira, setembro 22



Agora que os ABBA voltaram a estar na moda não posso deixar de sorrir quando torno a ouvir esta música que há trinta anos atrás para mim não passava de uma melodia de sonoridade fácil. Na verdade já não acredito em anjos nem que todos têm uma parte boa dentro de si. Há pessoas muito invejosas, muito mesquinhas, muito ciosas de algo que não é seu e acredito fervorosamente que um dia tudo irá mudar, infelizmente não creio que seja brevemente. Não há vontade política dizem uns, eu acho que será mais porque a classe política portuguesa é extremamente facciosa (salvo raras excepções) e muito machista. Parece que voltámos aos tempos da rainha Vitória que acreditava que o lesbianismo era coisa de ficção e que tolerava os homossexuais desde que não lhe assustassem os cavalos!

Em vez de marcharmos com confiança em direcção a um futuro de liberdade, respeito e tolerância, voltamos atrás. Discute-se, debate-se, fala-se e escreve-se muito sobre a homossexualidade mas ninguém conhece a realidade das histórias de amor que se passam por trás da cortina da normalidade imposta por uma sociedade que se diz tolerante mas que não dá passo nenhum no sentido de o ser. Afinal há quantos anos a discriminação com base na orientação sexual passou a ser condenada pela nossa constituição? E porque é que descriminar um casal com base no sexo de cada um no acesso ao casamento civil não é também condenável, assim como seria descriminar um casal em que um dos elementos tivesse uma cor diferente do outro?

Estou descrente, o meu sonho existe mas não acredito puder vir a concretizá-lo em vida, pelo menos não no nosso país. Eu vivo uma bela história de amor igual à de tantas outras pessoas mas diferente de todas as outras porque é a minha. A minha mulher é minha porque um dia eu encontrei-a e escolhi-a assim como ela me escolheu a mim e demos todos os passos no sentido de nos tornarmos um casal, namorámos, demo-nos a conhecer, amámo-nos louca e apaixonadamente e decidimos finalmente ir viver juntas. Se fosse permitido por lei o próximo passo, lógico para ambas, seria o casamento civil.

Não porque isso mudasse uma vírgula que fosse à nossa única e maravilhosa história de amor. Apenas porque o nosso tempo aqui é finito e nós sabemos que daqui a vinte ou trinta anos outros valores poderão vir interpor-se entre aquilo que hoje estamos a construir a duas. Se eu ficar inválida ou quando morrer, quero que tudo o que é meu seja dela e sei que mesmo que faça um testamento em seu favor isso poderá não ser linear. Ninguém neste mundo quer saber da minha única e maravilhosa história de amor a não ser nós as duas mas um dia que uma de nós falte à outra... e é só nesse sentido que eu queria casar-me com ela, para que perante a sociedade civil ela tivesse um estatuto igual àquele que já tem (e sempre terá) para mim. Ela é a minha mulher, de corpo e alma. É o meu passado, presente e futuro. E mesmo que me digam que eu não devia nem querer saber o que se passará depois de mim, eu preocupo-me por ela e pelo que ela terá que passar um dia sem mim. Há barreiras que o amor não chega para transpor e a morte é uma delas.

Posso continuar a sonhar em ter um casamento de sonho, assim como contínuo a maravilhar-me com contos de fadas, mas isso não chega para acreditar que um dia o nosso país irá evoluir. Ainda assim sei também que as nossas histórias de amor se irão continuar a escrever porque o amor verdadeiro encontra sempre um caminho, mesmo que seja um caminho muito diferente e bastante mais complexo do que o usual. E isso não vai mudar, mesmo que no dia 10 de Outubro continue tudo tal como está.

11 comentários:

Anónimo disse...

Tenho lido os seus textos. E as palavras que aqui deixa convidam a ser "devoradas". Foi este no entanto o texto de que mais gostei.
Vivo uma vida semelhante (ainda mais com uma filha) e é muito preocupante sem dúvida, pensar na outra pessoa e como ficará no fim da vida de luta a duas.
um forte abraço
Placi

rainbow disse...

Quero acreditar que mais tarde ou mais cedo as nossas histórias de amor vão ultrapassar as barreiras politicas, porque é uma questão de justiça social pura. A sociedade terá de aceitar como eu tenho de aceitar muita coisa com a qual não concordo porque quero continuar a viver em Democracia.
Sei que ás vezes desesperamos mas temos de ter esperança e continuar a caminhar e lutar.
Um abraço

underadio disse...

Obrigada Miranda e este é, de facto, um sincero obrigada pelas palavras realistas do post.

E mais, (q nunca o fiz mas tb não é tarde p o fazer), fica aqui, neste ponto deste blog, o meu obrigada a tod@s @s su@s contributors, sem excepção, mesmo aquel@s cujas as ideias e convicções não são as minhas.

Até breve.

Helena disse...

Pode demorar mas um dia será possivel sim. Neste país.
Quanto ao amor, esse não tem barreiras.

Druiel

Hérika disse...

Muito difícil a situação, em comparação ao Brasil, país em que vivo eu e minha namorada, sinto que pode mudar geograficamente, nós, mas as dificuldades pouco mudam de figura quando se trata de tornar legal de fato o direito de exercermos a nossa cidadania casando-nos com quem de fato amamos.Na luta a gente ainda continua, torço para que essas mudanças ocorram aí e quem sabe um dia cheguem aqui.Abraço.

VINCENZO GONZAGA disse...

Olá
Aqui no Brasil esse tema está em crescimento e acredito que em alguns anos nós possamos ter nossos direitos garantidos!
Trabalho com direitos dos homossexuais e o que mais vejo são lésbicas lutando para reconhecer seus direitos. Admiro muito esta postura.
Abraço

Martini Man disse...

Pois... parece que AINDA não é desta...

via disse...

o adiamento é apenas um medo, a questão do amor homossexual ser vivido apenas entre duas pessoas sem envolver a sociedade civil é uma das razões que torna muito difícil uma relação lésbica estável.daí que o casamento pudesse ajudar ao reconhecimento.

Always disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Always disse...

Miranda,

Queremos cumprimentá-la e dar-lhe os parabéns por este texto por tudo o que ele defende e representa para todos aqueles que vivem, de corpo e alma, histórias de amor únicas. Obrigada pela forma adulta e honesta com que expressa aquela que é a visão de muitos.

Always & Uturn

Anónimo disse...

seja ele qualquer forma quem pode jugar ..seja livre de amor mas com respeito ao seu proximo
por causa de muita mulhers que entrão na moda do lesbiko que estão sujando a imagem dos gay pro serem promiscuo..ser gay uma opção de gostar do msm sexo nos trabalhamos e pagamos nossas contas como todos não somos diferente so na cama opção é outra..