A importância de Harvey Milk

quarta-feira, fevereiro 4



Fui ver o filme sobre este ilustre político maioritariamente desconhecido entre nós e tão bem representado por Sean Penn que merece sem dúvida o Oscar de melhor actor, não por representar bem o papel de um gay mas por representar duma forma tão convincente o papel de um activista político que assume a sua homossexualidade com uma frontalidade até então desconhecida. Recorde-se que nos anos 70 a homossexualidade nos Estados Unidos ainda era punida com pena de prisão. Não sei (mas confesso que gostaria de saber) o que acontecia aos homossexuais que se assumiam em Portugal antes da revolução de 25 de Abril de 1974. Acredito que seriam presos pela PIDE e provavelmente torturados até "desistirem dessas tendências" ou mesmo até à morte.

Este é o peso histórico que os activistas LGBT carregam nos seus ombros. Estes são os fantasmas do passado que nos fazem recordar que há alguns anos atrás nós não podíamos falar livremente sobre os nossos sentimentos e relações. A humilhação ocupava o lugar do orgulho, o menosprezo o lugar da dignidade.

Nada resume melhor Harvey Milk do que o discurso da esperança que ele proferiu em São Francisco em 1978, pouco antes de ser assassinado. Nada resume melhor Harvey Milk do que a profunda convicção que toda a gente conhece um gay ou uma lésbica, mesmo não sabendo quem são. Podem ser os nossos amigos, os nossos vizinhos, os nossos pais, os nossos filhos, os nossos colegas de trabalho e até os nossos políticos!

Mas os milhares de gays e lésbicas que existem à nossa volta só serão reconhecidos no dia em que eles próprios tiverem a força e a coragem para assumir aquilo que são. O maior grito de guerra de Harvey Milk, para além do grito de esperança que tantas vezes exclamou, foi exortar todos os gays e lésbicas a saírem do "armário", a assumirem aquilo que são sem medo e sem vergonha!

"The blacks did not win their rights by sitting quietly in the back of the bus. They got off! Gay people, we will not win our rights by staying quietly in our closets... We are coming out! We are coming out to fight the lies, the myths, the distortions! We are coming out to tell the truth about gays!" – Harvey Milk

Trad: "Os negros não ganharam os seus direitos mantendo-se sentados na traseira do autocarro. Eles levantaram-se e saíram! Homossexuais, nós não ganharemos os nossos direitos se ficarmos quietos dentro dos nossos armários... nós vamos sair! Nós vamos sair para lutar contra as mentiras, os mitos, as distorções! Nós vamos sair para dizer a verdade sobre gays!"

E é só desta forma, dando os gays e as lésbicas a conhecer ao mundo que os rodeia, que um dia esse mundo irá reconhecer que nós somos iguais aquilo que sempre fomos, porque o mundo já nos conhecia antes de nos assumirmos como gays e lésbicas. E já gostavam de nós antes, e já tinham orgulho em nós antes!

Se há alguma coisa que tenho aprendido nestes últimos tempos, nomeadamente desde que comecei a partilhar experiências através da net, é que o caminho a percorrer até termos os nossos direitos reconhecidos na sua totalidade é muito longo sim, mas há tantos e tantas que já o trilharam antes, e brilharam, e foram bem sucedidos, e foram reconhecidos como melhores do que os seus pares, apesar da sua homossexualidade! Um dia a orientação sexual dum indivíduo será tão indiferente como a cor da sua pele ou o seu género. Esse dia ainda está longe mas eu tenho muita esperança e espero que este cantinho seja um local que transmita esperança a pessoas que por aqui passam em momentos cruciais das suas vidas. Se assim for, se eu souber que transmitimos esperança a pelo menos uma pessoa homossexual que nos leu, já valeu a pena e já sentirei que a nossa luta pelos nossos direitos não irá esmorecer nunca!

7 comentários:

S* disse...

Vi o filme. Sempre respeitei as pessoas com opçoes sexuais diferentes das minhas, mas este filme mostrou-me ainda mais a importancia de tal respeito.

Magnifico. O Sean Penn mostrou, mais uma vez, ser um actor muito versátil.

Gil Scott The heron disse...

o filme é bastante bom e fez me pensar que o real problema não é se está certo ou errado a homosexualidade mas se os heterosexuais tem o DIREITO de julgar e castigar os outros por tomarem decisoes pessoais ao qual não lhe dizem respeito.

só ate um homem cristão, mas não há nem nunca ouve razoes para se tratar os homosexuais com se tem feito. Milk foi um.... mas devia haver ums 300s

Isa disse...

Nunca imaginei ver o Sean Penn a fazer este tipo de papel! Acho que vou ver isto.

Miranda disse...

Gil um dos mitos em relação à homossexualidade é precisamente esse... das pessoas acharem que é uma decisão pessoal dum indivíduo quando de facto não é... a orientação sexual é algo que nasce connosco, está presente desde sempre mesmo que haja quem faça tudo para contrariar essa orientação ao longo da sua vida.

Acho que tod@s deveriam ir ver este filme, especialmente aqueles que acham que a luta pelos direitos dos homossexuais é algo secundário ou irrelevante. Há uma força muito grande por trás da actuação do Sean Penn, uma força feita de convicções, certezas e vontades que contagia não só os outros actores como os espectadores deste filme.

Anónimo disse...

é estranho agradecer a alguem que nao conheço, nunca vi nem falei, seja como for, quero apenas agradecer o facto de escrever tao regularmente e de lhe transmitir a certeza de que em momentos muito dificies e crucias da minha vida, refiro-me ao pensamento de desistir de uma relação homossexual, por muito que ame, as advertências do mundo exterior sao tao pesadas de viver e sao nesses momentos que passo aqui q leu e releio e que ganho coragem para continuar.

S.M. disse...

Olá. Conseguiste fazer o que eu não consegui. Comentar ( e bem ) o filme. A minha reacção foi mais de orgulho por ser quem sou e de revolta por tod@s o que querem impedir-nos de ser quem somos: pessoas válidas para uma sociedade solidária. O filme tocou-me muito ( e o Sean Penn está fantástico...simple e com gelo :)
Beijinh@s

Fonseca disse...

To super afim de ver esse filme!

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