quinta-feira, setembro 17
Parece uma pergunta tão simples, com uma resposta que deveria ser simples também. Estender o direito do casamento aos homossexuais não implica absolutamente nada em relação aos direitos de todas as outras pessoas. Não obriga ninguém a casar, até porque muitos homossexuais nem sequer querem ou pretendem fazê-lo. Até hoje nunca percebi quais são de facto os argumentos (tirando os religiosos) que levam a que haja tanta gente que se oponha a este tipo de união.
Segundo a religião católica o casamento tem como fim único a procriação, embora já tenha lido livros de teólogos que rebatiam essa argumentação citando o próprio Santo Agostinho para quem a procriação nem sequer faz parte das obrigações dum casal que se une pelo santo matrimónio. Hoje em dia e à luz de tantos problemas que existem num mundo sobrelotado continuará a fazer sentido insistir que quem casa deve procriar, sabendo que os casais que o fazem têm pouquíssimos incentivos, que a sociedade ferozmente consumista e competitiva dos nossos tempos não se compadece com o tempo que todos também deveriam ter para se dedicarem à família e aos filhos?
Dos argumentos que já ouvi e mais pena me causam são do lado dos homossexuais serem contra a extensão deste direito porque acham que as suas relações são “diferentes” das outras. Causam pena porque no fundo sentem-se inferiores aos outros, vêem a sua homossexualidade como um estigma, quem sabe se não até como uma doença. Estes são os homossexuais que se pudessem mudavam a sua orientação sexual, que não se aceitam tal como são e que vivem oprimidos por isso. É difícil rebater estes argumentos porque o cerne da questão está neles próprios e na sua atroz falta de auto-estima.
Também já ouvi heterossexuais dizerem que se esse direito for estendido aos homossexuais se sentem menos casados, como se isso desvalorizasse de alguma forma o sentido do casamento. Não consigo compreender este argumento, sinto que é algo que vem do mesmo fundo que a xenofobia ou o machismo profundo, quando homens brancos se sentiam ameaçados por terem que aceitar que homens de outras raças e cores tinham os mesmos direitos do que eles, ou quando os homens foram obrigados a aceitar que as mulheres tinham direito aos mesmos direitos do que eles. E qualquer uma dessas convulsões sociais terá sido bem mais penosa (porque mais alargada) do que esta que se pretende hoje.
Que os homossexuais irão ter direito a casar um dia é um facto, a sociedade civil caminha nesse sentido e já muitos passos foram dados para aqui chegar. A questão neste momento é só saber quando, porque isso irá fazer uma diferença significativa na vida de muitos casais e muitas famílias. Não se irão sentir mais casais nem mais famílias por isso, mas irão sentir-se mais aliviados por saberem que a lei os contempla e os protege, assim como a todos os outros cidadãos que nela participam plenamente.
9 comentários:
Eu tenho cá uma teoria, a maioria das e dos opositores à união homossexual passa pelo medo. Medo de mudanças, medo, inclusive, de que seus próprios casamentos venham a falir. E sobretudo porque a concorrência matrimonial aumenta, rs rs rs rs.
Eu tenho uma teoria baseada em factos que vi já com os meus próprios olhos e com uma realidade que muitos conhecem directa ou indirectamente.
Há ,muita gente no poder, sejam estas "personalidades" conhecidas ou não, que de gente das ditas "boas famílias" (algumas com elementos bem bons lol) que preferem não ser decobertos relativamente às suas actividades paralelas. Há sítios, não só Lisboa ou Porto, e não nos sítios mediaticamente conhecidos, nos quais os mesmos têm encontros fugazes com outros homens ou rapazes mais novos (muitos não de prostituição, a grande maioria)...
Ora bem, como explicariam eles à sua "high society" estas situações. Certamente esse mundo de hipocrisia e de fachada ruiria e como consequência uma transformação social de certos meios. É assim que eles vivem e não sabem viver de outra maneira. O mesmo se vai suceder com as novas gerações destas "famílias no poder" (o poder real) que aprendem bem a lição de viver para mostrar uma certa imagem.
"Porque o que não se fala, não existe."
Outra teoria está directamente relacionada com a própria frustração sexual dos mesmos; ou seja, como nunca conseguiram ser eles próprios na vida, querem que os outros também não tenham a felicidade que não conseguiram conquistar.
E podia continuar com um comentário muitas vezes maior que o post, mas fico-me só por aqui.
Porta-te mal :P
Uff... Há tantos factores! A procriação, a religião, os homossexuais recalcados e raivosos... Acho que, em parte, provém da tentação que todos temos (uns mais, outros menos) em desvalorizar o que é diferente de nós, para aumentar a nossa auto-imagem. Mas há muito, muito mais em jogo. Há, por exemplo, a homofobia (em relação sobretudo aos homens gays) como reacção ao estatuto de superioridade masculina ameaçado. Afinal, os homens gays renunciam àquilo que os homens heteros mais prezam: só pensar em comer gajas (e muitas vezes a outros traços tipicamente masculinos e tipicamente vistos como superiores pelos homens). Parece que os homens gays os desarmam, porque mostram que um homem pode ser muito mais do que eles são... óbvio que a reacção é clamar "isto não são homens, são bichas!". Depois, tudo o que é homo é conotado dessa forma. Como seres abaixo de humanos...
...o poder ou não poder casar, está neste momento pendurado num nova iniciativa legislativa por parte da esquerda possível. Mas pelo andar da carruagem, tenho algumas dúvidas que no novo contexto parlamentar que se afigura , essa antiga pretensão está em vias de se tornar um pouco difícil. Com ou sem preconceitos que o existe sempre em qualquer expectro político, tudo não passa de uma questão numérica. Qualquer que seja o remoque de Belém, a última palavra será sempre o somatório dos votos na AR, e nada mais!
Grande questão!
Óbvio que os maiores algozes são os argumentos religiosos.
Mas eu pergunto aos cristãos: se o objetivo do casamento é unicamente a procriação, o que dizer dos casais que não podem ter filhos?
São menos casados do que os casais férteis?
E os casais que procriam e largam seus filhos em orfanatos?
Enfim, é um argumento que não tem base forte.
O problema maior é ainda o preconceito tão latente na sociedade.
A união civil gay ocorrerá um dia, conforme você disse. As mudanças ocorrem, sem dúvida. As mulheres conquistaram seu espaço, os negros foram libertos da escravidão, a moda muda, os costumes mudam...O que antes era feio, hoje se torna aceitável e comum.
Mas para que haja mudança é necessário lutar.
Os homossexuais precisam se organizar, precisam ser mais engajados com suas causas, precisam se auto-afirmar.
Muitos não se importam com os seus direitos e nem com sua própria imagem e isto dificulta muito.
Quando o homossexual melhorar a imagem que tem de si próprio vai conseguir levar isso adiante, para sua família e para a sociedade como um todo.
Beijo grande!
Concordo contigo, também não acredito que o reconhecimento legal da união homossexual possa fazer sentir mais casais, mas com certeza, nos fará sentir mais aliviados enquanto cidadãos. Se pagamos nossos impostos como qualquer outra pessoa, devemos ter os mesmos direitos, sendo assim, devemos lutar para que os mais de 40 direitos civis que nos são negados enquanto cidadão sejam respeitados, como o casamento, a adoção, colocar nossa (o) companheira (o) como dependente nos planos de saúde, etc...
Adoro este espaço.
Beijos
olá!
os homossexuais não podem casar porque uns políticos tolos e pseudo moralistas não querem!
assim resume-se a resposta à questão!
a religião católica, ou qualquer outra religião não deve pronunciar-se sobre o assunto e muito menos impor o que vai nas escrituras à sociedade civil.
os homossexuais que não querem casar... bem, essa é tão simples como os heterossexuais que não querem casar... não se casem!
os heterossexuais que criticam são influenciados pelo moralismo falso e bacoco que existe na nossa sociedade!
assim, a única coisa que falta é no código civil onde está a noção de casamento, cair o termo entre duas pessoas de sexo oposto para e somente casamento é um contrato entre duas pessoas....
A questão religiosa ainda pesa muito. As pessoas acham que ser gay é pecado, que é ato condenável por Deus e que, por isso, não deve ser oficializado pela sociedade. Infelizmente o Estado não é tão laico quanto gostaríamos. O mesmo se dá aqui no Brasil: a pressão da Igreja Católica e das Igrejas Evangélicas é muito grande! Há deputados padres e pastores que confundem seu papel político com suas convicções religiosas. Será uma dura batalha até conseguirmos garantir nossos direitos.
Ora, mas isto resolve-se muito facilmente! O problema dos conservadores, na maioria dos casos é apenas uma questão de terminologia. Não querem que o casamento entre homossexuais tenha o mesmo nome do casamento hetero. Pois bem, acho que não seria problemático chamar-lhe casamentoL. Pessoalmente acho mais simpático que "verrinhéc" (sugestão dos Gato Fedorento). xD
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