Ai que nervos!!

terça-feira, fevereiro 17



Confesso que fiquei pregada à televisão e segui com enorme atenção tudo aquilo que foi dito ontem à noite no debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo no programa Prós e Contras da RTP1. O lado daqueles que são a favor estava muitíssimo bem representado por Miguel Vale de Almeida, a Dra. Isabel Moreira, o Dr. Pamplona Corte Real, Daniel Oliveira, Paulo Corte Real, uma brilhante Fernanda Câncio e uma plateia cheia de pessoas querendo ver a sua dignidade (ou a de amigos e familiares) reconhecida pelo estado. Os argumentos usados a favor do acesso ao casamento civil por pessoas do mesmo sexo são sobejamente conhecidos a começar pela nossa própria constituição que como referiu a Dra. Isabel Moreira proíbe a descriminação com base na orientação sexual do indivíduo. Se a constituição é aquilo que nos rege de mais básico e fundamental então a lei que regulamenta o acesso ao casamento civil é discriminatória porque impede uma pessoa homossexual de casar com uma pessoa do mesmo sexo.
Do lado daqueles que são contra ouvi argumentos de arrepiar, de pessoas que são supostamente cultas, inteligentes e deviam ser informadas sobre aquilo que se estava ali a discutir. Tirando o Padre António Vaz Pinto que foi o único com um discurso coerente e correspondente àquilo que seria de esperar de um elemento da Igreja, o resto deixou muito a desejar! Ouvimos coisas como:

• Não se altera a lei que regulamenta o acesso ao casamento civil mas alteram-se todas as outras que são discriminatórias como a lei do arrendamento, a lei do direito sucessório e por aí fora! Mas que trabalheira!
• As pessoas homossexuais têm o direito de se casarem desde que o façam com uma pessoa de sexo diferente! Ai…
• Os bissexuais são pessoas perigosas porque querem casar com um homem e uma mulher ao mesmo tempo! Ai…
• Um tipo sinistro da União das Famílias que dizia que os casais de homossexuais não são "normais", seguido de justíssimos protestos vindos do outro lado.
• Esse mesmo tipo sinistro a dizer que não há estudo nenhum que comprove que uma criança pode ser feliz se for adoptada por um casal de pessoas do mesmo sexo (não "normal" portanto). Ai… ao que Fernanda Câncio referiu e bem que já há muitas crianças adoptadas por pessoas homossexuais porque a lei portuguesa permite a adopção de crianças por pessoas singulares sem descriminação com base na orientação sexual, mas não permite a adopção a um casal de pessoas do mesmo sexo o que é um contra-senso no mínimo legal!
• Um outro tipo que se insurgia contra Daniel Oliveira e furiosamente gesticulava dizendo que não lhe admitia que este o chamasse de homofóbico, quando Daniel Oliveira referia, e bem, que as posições tomadas pelo dito eram de facto homofóbicas, porque intolerantes e discriminatórias.

De referir ainda aquilo que Isabel Moreira contestou ao Padre Vaz Pinto quando este tentou estabelecer uma analogia entre o casamento de pessoas do mesmo sexo e o casamento entre pais e filhos (incestuoso). Em termos jurídicos o casamento incestuoso é anulável com base num "erro" cometido por quem o contrai. Em termos jurídicos ao ser proibido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a lei está a dizer que o próprio homossexual é um erro ao não lhe permitir sequer o acesso a esse direito… por outras palavras a lei que regulamenta o acesso ao casamento civil é uma lei homofóbica e discriminatória.

Falaram muito bem todos os que deram a cara a favor do acesso ao casamento civil por pessoas do mesmo sexo. Frisaram inúmeras vezes que era uma questão de igualdade, de respeito, de dignidade pela pessoa humana em geral e pelos homossexuais em particular. Que esta minúscula alteração da lei irá permitir regulamentar juridicamente uma série de relações que já existem e que continuarão a existir, passando ou não passando a alteração proposta. Que esta alteração não retira direitos a ninguém, não prejudica ninguém, não humilha nem descrimina ninguém, pelo contrário, é uma medida a favor duma maior abrangência em termos sociais. Não põe em causa a continuidade da espécie, não põe em causa a orientação sexual de ninguém e muito menos duma maioria que é e continuará a ser heterossexual.

Tirando os argumentos pouco claros e baseados em crenças religiosas, fiquei sem perceber porque incomoda tanta gente que uma pessoa homossexual tenha o direito de casar com a pessoa que ama! :(

19 comentários:

Paula Baltazar Martins disse...

Sinceramente eu até achei o debate bastante positivo. Os argumentos do não eram de tal forma ridiculos, sem fundamentação e incoerentes que acredito que aqueles que não têm opinião formada só poderão ficar do lado do sim.
De facto, de todo o debate, não consegui ouvir um motivo coerente que contrarie o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O mais curioso é pessoas que transpiram homofobia ficaram chocadas quando lhes apontam a sua homofobia mais que visível.

Anónimo disse...

Estes Srs do sim que estavam lá ontem, não viram nem leram uma sondagem que estava um dia destes na net que dizia que as crianças criadas por homossexuais são mais felizes, calmas e inteligentes do que as crianças dos ditos heteros.

Isto porque as ditas famílias "normais" vivem quase sempre em conflito e as crianças normalmente vivem-no também como é obvio.

Gostei do debate, até porque percebi que o grande problema não será e Igreja como se temia mas sim um punhado de homofóbicos sem argumentos que lá se encontravam.

Parabéns Fernanda Câncio.

Provocação 'aka' Menina Ção disse...

Todos falam da Fernanda Câncio mas a jurista Isabel Moreira teve um grande mérito na excelente argumentação e na forma como lidou com o atraso dos defensores do "não" (atraso social, entenda-se) então e o tal Cid que se lembrou de falar nos bissexuais o que se faria se esses quisessem casar? Lol, demais, acho que a plateia do "não" ajudou muito a perceber o quanto têm uma tomada de posição ridícula. E perdi a minha novela para ver o debate, estou a tornar-me numa cidadã orgulhosa!

Anónimo disse...

Confesso que não vi em directo o P&C de ontem.
Mas hoje já tive a possibilidade de assistir aos vídeos disponibilizados pela RTP.
Gostei da postura da Drª Isabel Moreira e do Dr. Miguel Vale de Almeida.
Espero que tenha servido para abrir mentes e constatar os argumentos iníquos e pejados de dogmas do lado dos opositores a um direito constitucionalmente consagrado.

Antes deste debate já tinha feito um post sobre o nosso direito a casar no meu blog. (http://aflordosol.blogs.sapo.pt/48401.html)
um abraço

Anónimo disse...

Nós vivemos num mundo hipócrita e mesquinho, muitas das pessoas são ignorantes, mesmo até autênticas pedras ambulantes. Como é que podem deixar de discriminar se muitas das pessoas ainda pensam que as mulheres é que têm de fazer tudo em casa enquanto os homens estão de papo para o ar. Vé o que acontece em África.
Tem que se ensinar, educar, os mais novos, para que no futuro não haja pessoas tão tacanhas.
Esperemos que o futuro seja mais sorridente para todas as pessoas, mas que haja mais respeito dignidade e não haja preconceitos....
hasta.

Tiger! disse...

O texto elucida muito bem o que aconteceu no debate! Sim, os argumentos do lado do "Não" eram surreais e mostraram apenas ignorância, casmurrice, teimosia e falta de bom senso...

t'Mary @ disse...

Excelente comentário ao debate de ontem =)

Ana EyeSor3 disse...

Muitas vezes (demasiadas) os argumentos usados contra o casamento de pessoas do mesmo sexo soam-me iguais aos argumentos usados contra a legalização do aborto. Pode ser só de mim... Irrita-me profundamente ouvir senhores que se acham com o poder e o direito de saberem e escolherem aquilo que é melhor para os outros.
Eu sou pela liberdade de escolha. Não sou católica mas adoro o conceito de livre arbítrio.
Estabelecendo ainda uma paralelismo com a questão do aborto (eu sei que são questões superficialmente distintas, mas no fundo são dois tópicos sobre a liberdade de escolha, certo?) eu acredito que nos próximos anos o casamento e a adopção serão legislados e os preconceituosos e moralistas terão de arranjar outra liberdade que acham que temos de ser privados. Não quero dizer com isto que se deva parar a luta. Que devamos cruzar os braços e baixar a cabeça quando forem ditas e feitas acções que atentam contra esta luta por uma liberdade que nem devia estar em questão. Simplesmente há argumentos que de tão absurdos merecem mais a nossa gargalhada do que a indignação.

O ovo estrelado disse...

...talvez se os opositores ao casamento/união civil ou outro nome que lhe queiram dar, pensassem menos com a cortina da falsa moral ou da dúbia virtude, e rarciocinassem em termos lógicos, talvez chegassem à conclusão que todas as probabilidades são aceitáveis. O casamento não é algo boleano, casamento é a união de dois afectos, e os afectos são as várias hipóteses: homem-mulher, mulher-mulher, homem-homem. Todos diferentes, todos iguais no amor que os une. Também assisti com alguma curiosidade ao programa! Não gostei da postura arrogante e agressiva da "constitucionalista" do painel nem da Fernanda Câncio; faltou-lhes o dom da humildade e da pondedração; gostei sim da postura honesta do Padre Vaz Pinto, mas acima de tudo das brilhantes intervenções do representante "Eixo do Mal" - Daniel Oliveira, e finalmente da intervenção final do Dr. António Vale D'Almeida...mas com ou sem casamento, pergunto-me se o preconceito e a homofobia vão desaparecer!?...Daqui a uns anos logo se verá!...mas por uma questão de cidadania e plena liberdade, é necessário corrigir o erro!...agora também me questiono: alteração legislativa por voto parlamentar ou referendo!?

indigente andrajoso disse...

não estamos no séc. XXI...

Miranda disse...

Ai ai ai... os direitos das minorias não se podem referendar ovo!! Veja-se o que se passou na California com a Prop 8!!

Se estivermos dependentes dum referendo estaremos muito muito mal encaminhados!

Anónimo disse...

Miranda
Concordo em absoluto. Os direitos, e não só os das minorias, não se referendam. São inquestionáveis.

Anónimo disse...

Também assisti atentamente o programa...
Apesar dos argumentos ridiculos a favor do não, ficou muito bem retratada a ignorância dos seus argumentos, e a própria ignorância dos que os defendiam.
Talvez assim se tenha conseguido chamar a atenção de outras pessoas e inclusivé convencê-as de que este é um tema muito importante e digno e que só assim... com estes pequenos passos ... poderemos afirmar viver numa sociedade democrática, em que a liberdade e a igualdade é, efectivamente, para todos.
http://nemmerdanemacucar.blogs.sapo.pt/10643.html

Anónimo disse...

Eu também segui o debate com uma enorme atenção. Foi de tal modo emocionante que tive sentimentos que me levaram do riso à irritação.

A bancada do sim esteve muito bem, fundamentando todas as "preocupações" do não.

A bancada do não fez comentários que foram de tal modo ridiculos que não cabem na cabeça de ninguém.

É triste ver como na sociedade actual, ainda se pensa desta forma.

Fiquei muito triste por ver a plateia do sim com tantos jovens.

São necessários ainda mais debates e por muito que não queira casar, é um direito, é algo que nos torna igual aos outros, o casamento deve ser entre duas pessoas (esquecendo o género).

Parece que dar a oportunidade de uns serem felizes, incomoda muita gente. Ou secalhar coloca em causa muitos casamentos e muitas famílias que são fachadas puras.

S.M. disse...

Sim, se alguém descobrir o que tanto incomoda as pessoas que me diga, sff. Se eu me casar com a minha companheira o que é que muda para as nossas famílias, para os nossos vizinhos, etc?
Não consigo vislumbrar nada... A única coisa que muda são os meus direitos e a minha vida...Minha não dos outros. Que parte é que eles não percebem????

Adoa Coelho disse...

E nunca irás perceber....

Nem eu!

Anónimo disse...

Boa tarde
existem duas coisas que me fazem confusão e ainda mais porque ja estão explicadas á luz da ética.
1 - Homossexualiade é uma opção sexual... mentira... não é uma opção mas sim uma orientação.
2 - O casamento entre homossexuais... isto não é possivel pois. diz a constituição da replubica q tem q ser entre elementos de sexos diferentes. assim sendo, estamos a discutir a nomenclatura errada pois deviamos chamar-lhe outra coisa.
n me parece q alterem a constituição mas parece-m q a cultura tem q mudar pois deve ser possivel, legalmente, a união de duas pessoas do mm sexo.
A MUDANÇA É EFEMERA..

Anónimo disse...

Eu ando a tentar informar-me sobre esta questão porque sou contra o casamento entre homossexuais mas é-me muito difícil ter de dizer isso a alguém que vê (e quem sou eu para dizer que erradamente) nessa união o caminho para a sua felicidade.. Mas por outro lado, vejo que não é sustentável este tipo de casamento. E ninguém está a querer escolher o que é melhor para os outros nem a interferir na liberdade. A ideia é organizarmo-nos como sociedade e ponderar o que faz ou não faz sentido. Nem tudo tem de evoluir. E já que falaram lá em cima em aborto, a legalização do aborto deixou-me triste, por tudo, principalmente porque se reivindicava o direito à morte. Isso repugna-me. Tive pena de não ter idade para votar. Este caso do casamento entre homossexuais é diferente e por isso não consigo ser tão maniqueísta na minha opinião.. é que aqui, bem ou mal, o que move a reivindicação é o amor. Isso não acontece no aborto, muito pelo contrário... O que me parece é que esse amor não faz sentido, por mais que me custe dizer isto a alguém... é um amor pouco saudável, pouco natural (e a natureza é muito clara neste assunto, parece-me...)! Não pretendo ofender ninguém ao questionar o amor. Mas é o que penso.

Thomaz disse...

Quero direitos humanos fazendo pensar nos pilares de uma nova era...essa deveria ser a frase correta da música da Ana Carolina...

Estou envolvida em um projeto bem proximo a esta blog, mostrando, defendendo os nosso valores gays....

entre e comentem também

www.queromerevelar.blogspot.com