Tu eras o meu Big e eu a tua Baby.
Às vezes eras maior que a vida, um lutador por excelência e o maior apologista de mim que alguma vez cruzará a minha vida. Não te interessava o que eu quisesse fazer, só querias que eu o fizesse bem, sem medo e com tudo o que eu podia dar. Tão depressa me davas uma palmada nas costas por eu querer ir para a catequese, como o fizeste por eu querer ir para o karaté.
As poucas regras que me impunhas eram exactamente as mesmas com que conduzias a tua vida “Máxima liberdade, máxima responsabilidade”, “Sê tudo o que quiseres, mas sê…” E tu eras!
Lembro-me de agarrar o teu dedo mindinho quando andávamos de mãos dadas, fui crescendo e passamos para o indicador, depois para a mão toda. Lembro-me de me dizeres vezes sem conta que monstros e fantasmas não existiam, e quando comecei a ter terrores nocturnos ensinaste-me a trazer para os meus sonhos o super-homem para dar cabo dos maus.
Ensinaste-me a cozinhar (não cheguei a apreender a fazer o arroz de lingueirão, íamos tratar disso este verão) e a conduzir. Ensinaste-me a falar e a escrever português (mesmo que às vezes eu insista no pretoguês). Ensinaste-me a história de Portugal (mesmo quando eu insistia que compreender o passado em nada ajudava a viver o presente, compreendi depois que querias que eu sentisse uma pátria, porque conhecias o peso de não pertencer a lado nenhum, o peso de ser pária, ou cidadão do mundo como dizias a rir). Ensinaste-me a jogar na bolsa e no casino. Ensinaste-me que só se podia ser racista se existisse falta de uma cor, o cinzento da massa encefálica.
Por três vezes desiludi-te, vi-o no teu olhar, ouvi-o nas tuas palavras e senti-o como uma perda (eu nunca queria desiludir-te, mas sabia que era inevitável para seguir o meu caminho – também isto era crescer), no máximo um dia depois, sentavas-me à mesa, olhavas-me de frente e dizias que a escolha era minha, que não achavas piada, mas que a escolha era minha, pelo que estarias ao meu lado e logo ali começávamos a traçar o plano para concretizar a minha escolha. Depois eram as nossas horas perdidas a discutir economia, geopolítica, política, culturas, literatura (como adoravas Camões e Pessoa) e a vida.
O que tu gostavas de rir, o teu passatempo favorito era contar anedotas e histórias de vida, de vidas, que acabavam invariavelmente numa gargalhada. Lembro-me de chegares a um bar ou restaurante e se as pessoas te parecessem tristes ou sérias, começavas a rir, a rir, e ias contagiando a tua mesa, a mesa do lado, outra em frente e por fim, o resto da sala (eu ficava tão envergonhada, e tu a rir dizias que era o eles estavam a precisar).
Hoje despeço-me de ti e sinto o que me ensinaste, que embora estejas ausente, tu vives em mim. Nos últimos 10 anos víamo-nos um mês por ano, e na tua ausência tu vivias em mim, agora ver-te-ei quando morrer e até lá viverás em mim.
Não te preocupes comigo eu fico bem, eu sou da tua cepa ensinaste-me bem, a vida não me mete medo (eu sei que às vezes dói, como agora, mas como me dizias “é só dor não te assustes”).
Vou caminhar mais sozinha, mas vou caminhar como me ensinaste. Vais fazer-me falta…
Good bye Big, I Love You!