quinta-feira, janeiro 14
Meu Amor... "só quero ser Feliz"!
(Sem Ti ao meu lado isso não será possível.)
"Não quero mais palavras rasgadas"
(Só preciso duma resposta Tua, diz-me que SIM!!!)
Este espaço serve o propósito de reflectir sobre a homossexualidade feminina! E outras coisas giras que vão aparecendo...
Meu Amor... "só quero ser Feliz"!
(Sem Ti ao meu lado isso não será possível.)
"Não quero mais palavras rasgadas"
(Só preciso duma resposta Tua, diz-me que SIM!!!)
Tag casa comigo, Miranda
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Miranda
2
Com Gelo
Era para ter deixado esta nota ONTEM mas com as comemorações não houve tempo!! :)
A partir deste ano as pessoas do mesmo sexo vão ter o direito a CASAR!!
Hoje somos tod@s lésbicas COM GELO e em DOSE DUPLA!!! :))
Reacções um pouco por todo o mundo:
BBC News
El Pais
Le Monde
New York Times
A entrada na Wikipedia sobre o CPMS também já se encontra actualizada e refere a possibilidade dos primeiros casamentos se poderem realizar já em Abril, caso o Presidente não exerça o direito de veto: http://en.wikipedia.org/wiki/Same-sex_marriage_in_Portugal
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Miranda
1 Com Gelo
Duas letras apenas, nada de mais, só assim, uma palavra pequena, minúscula até e nela está contido o meu mundo e é assim que te vejo quando acordo de manhã e te encontro a dormir ao meu lado. Dormes com um sorriso, como se estivesses acompanhada de anjos no paraíso, e eu invejo-te a felicidade e a paz, na vaga esperança que em assim sonhando, sonhes também comigo. Não me serve de nada vir dizer que te adoro, tu sabes isso bem, sem palavras que não são necessárias, nunca foram entre nós. Eu olho-te e adoro-te, vejo-te a dormir em paz e adoro-te, cheiro-te e adoro-te, ouço-te a rir e adoro-te, perco-me nos teus braços e adoro-te, e juro-te amor e fidelidade até ao fim dos meus dias e digo-te que tomarei conta de ti e te protegerei contra todos os males e os perigos do mundo e tu riste de mim, incrédula de tanta convicção e alma, mas é verdade tudo o que te digo e tudo o que me ouves dizer-te sem palavras.
Nunca me senti assim, nunca. Nunca nada foi tão sublime e tão intenso, tão partilhado e tão cúmplice. Acabas-me onde eu começo, segues-me e depois levas-me. Somos um par, uma parelha, um casal, uma dupla, nem me interessa muito o nome, o rótulo, somos duas, mas para mim tudo se resume a uma só palavra... TU!
Entende estes pequenos recados como isso mesmo, são pequenas notas que deixo em tudo o que faço e digo, pedaços de mim que vivem para lá do nosso pequeno espaço e que apenas servem para mostrar ao resto do mundo que há histórias de Amor que foram feitas para se Viver!
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Miranda
13
Com Gelo
Terão sido assim tantos (60% dos portugueses votaram a favor do casamento entre homossexuais) como diz Miguel Vale de Almeida, o primeiro deputado homossexual assumido a ser eleito (pelo PS) para a Assembleia da República?
Não importa quantos foram, muitos ou nem tantos assim, a verdade é que a igualdade de direitos da minoria LGBT voltou em força à agenda política! E espero que muito brevemente o tema sobre o casamento entre homossexuais volte também à Assembleia da República e que o PS desta vez faça aquilo que devia ter feito em Outubro passado!
Hoje é um bom dia porque a nossa esperança ganhou uma nova força, explícita e assumida! Só de ver as bandeiras do arco-íris a participarem na festa da vitória do PS nas eleições legislativas de ontem já nos dá um bocadinho mais de alento. Esperemos que desta vez os ventos de mudança tenham mesmo vindo para ficar!
Tag Miranda, quero casar
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Miranda
12
Com Gelo
Parece uma pergunta tão simples, com uma resposta que deveria ser simples também. Estender o direito do casamento aos homossexuais não implica absolutamente nada em relação aos direitos de todas as outras pessoas. Não obriga ninguém a casar, até porque muitos homossexuais nem sequer querem ou pretendem fazê-lo. Até hoje nunca percebi quais são de facto os argumentos (tirando os religiosos) que levam a que haja tanta gente que se oponha a este tipo de união.
Segundo a religião católica o casamento tem como fim único a procriação, embora já tenha lido livros de teólogos que rebatiam essa argumentação citando o próprio Santo Agostinho para quem a procriação nem sequer faz parte das obrigações dum casal que se une pelo santo matrimónio. Hoje em dia e à luz de tantos problemas que existem num mundo sobrelotado continuará a fazer sentido insistir que quem casa deve procriar, sabendo que os casais que o fazem têm pouquíssimos incentivos, que a sociedade ferozmente consumista e competitiva dos nossos tempos não se compadece com o tempo que todos também deveriam ter para se dedicarem à família e aos filhos?
Dos argumentos que já ouvi e mais pena me causam são do lado dos homossexuais serem contra a extensão deste direito porque acham que as suas relações são “diferentes” das outras. Causam pena porque no fundo sentem-se inferiores aos outros, vêem a sua homossexualidade como um estigma, quem sabe se não até como uma doença. Estes são os homossexuais que se pudessem mudavam a sua orientação sexual, que não se aceitam tal como são e que vivem oprimidos por isso. É difícil rebater estes argumentos porque o cerne da questão está neles próprios e na sua atroz falta de auto-estima.
Também já ouvi heterossexuais dizerem que se esse direito for estendido aos homossexuais se sentem menos casados, como se isso desvalorizasse de alguma forma o sentido do casamento. Não consigo compreender este argumento, sinto que é algo que vem do mesmo fundo que a xenofobia ou o machismo profundo, quando homens brancos se sentiam ameaçados por terem que aceitar que homens de outras raças e cores tinham os mesmos direitos do que eles, ou quando os homens foram obrigados a aceitar que as mulheres tinham direito aos mesmos direitos do que eles. E qualquer uma dessas convulsões sociais terá sido bem mais penosa (porque mais alargada) do que esta que se pretende hoje.
Que os homossexuais irão ter direito a casar um dia é um facto, a sociedade civil caminha nesse sentido e já muitos passos foram dados para aqui chegar. A questão neste momento é só saber quando, porque isso irá fazer uma diferença significativa na vida de muitos casais e muitas famílias. Não se irão sentir mais casais nem mais famílias por isso, mas irão sentir-se mais aliviados por saberem que a lei os contempla e os protege, assim como a todos os outros cidadãos que nela participam plenamente.
Tag Miranda, quero casar
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Miranda
9
Com Gelo
Acho que é seguro declarar que nunca vi um filme com um título tão fantástico tornar-se numa tão grande desilusão! Segundo o Times é mesmo "an appalling waste of a perfectly decent title".
Confesso que tenho um certo fascínio por vampiros e vampiras (mais ainda se forem lésbicas naturalmente). Adoro tudo o que meta sexo, sangue e morte à mistura, acho que dá sempre um culminar orgásmico literário (ou cinematográfico) e confesso que adoraria um dia escrever um argumento sobre vampiras lésbicas, cheio dos ditos condimentos, sexo, sangue e muitas mortes!
Este filmeco de meia tigela, apesar do titulo fantástico, não chega nem perto daquilo que para mim seria uma história sobre vampiras lésbicas. Só de o dizer já fico cheia de arrepios, e não é de medo, apesar de considerar que um argumento deste género também se prestaria a um bom filme de terror. Imagino já os dentes delas a crescer, iluminados pela lua, imagino-as a morderem jovens virgens trémulas, imagino o sangue quente a escorrer-lhes pela boca, as suas línguas a saborearem gulosas as gotas gordas e reluzentes... ai!
O que eu nunca, mas nunca nunca nunca faria a um filme com um título destes seria transformá-lo num género de comédia estupidificante sobre dois heróis deficientes mentais que só pensam em mamas, cerveja e preservativos! Heeeelllloooo!!! Mas vamos por partes...
1) Nunca mas nunca chamaria Carmilla à minha rainha das vampiras lésbicas. Mas que raio de nome é esse?!?! Marvela, talvez... ou algo mais rebuscado ainda porque uma rainha, ainda para mais sendo vampira lésbica merece um nome à altura! Para além de lhe darem pouquíssimo tempo de antena, de não a porem a protagonizar uma cena de sexo com uma das suas súbditas, matam-na quase imediatamente após ter ressuscitado!
2) Nunca mas nunca poria dois homens por mais bem parecidos que fossem (e estes não são, bem pelo contrário) a matarem vampiras lésbicas! As vampiras lésbicas não podem ser mortas por homens, elas comem-nos ao pequeno almoço! Eles não são suficientemente inteligentes para conseguirem matar tais nobres criaturas. Temos pena!
3) A banda sonora é simplesmente execrável! Quem escolheu a porcaria que ouvimos durante o filme deve ser totalmente duro de ouvido (homem de certeza) e um filme com este titulo merecia uma boa banda sonora, ao estilo do David Bowie com o seu fantástico "Cat People".
4) Neste filme as mulheres tornam-se vampiras automaticamente quando atingem a maioridade o que até pode ser interessante mas em termos cinematográficos é péssimo. Toda a gente sabe como nos tornamos vampiras, temos que ser mordidas por uma vampira, é condição primordial para que a transformação se dê! Uma mulher está a dormir na cama, abre os olhos e de repente é vampira é muito mau! Nada disso, antes de o serem as vampiras têm que ser mordidas por outras mulheres vampiras. A vampira lésbica seduz a sua vitima, pode ser homem ou mulher embora só as suas vítimas que são mulheres se possam vir a tornar vampiras. A vampira lésbica usa os homens como comida, e as mulheres para o sexo. A vampira lésbica morde as vítimas e não é ela que controla o que lhes acontece. A vampira lésbica não é uma assassina, ela apenas tenta saciar as suas necessidades e os seus desejos, ela não chega a matar ninguém. Das vítimas mulheres nem todas se transformam em vampiras lésbicas, depende da reacção do seu sangue ao veneno que a vampira lhes injecta enquanto lhes morde os apetecíveis (e apetitosos!) pescoços. Algumas vítimas não se irão transformar em vampiras por terem uma quantidade substancial de anti-corpos adquiridos ao longo de muitos anos a fornicarem com homens. Sim porque ser vampira lésbica não está ao alcance de qualquer mulher!
5) O sexo é inexistente e essa é a maior falha de sempre em relação a um filme com este titulo! O filme merecia muitas cenas de sexo tórrido entre mulheres, as vampiras lésbicas adoram sexo, é o sexo que as motiva, mais ainda do que a sua inesgotável sede de sangue! Como é possível não haver nenhuma menção sequer de sexo para além duns insípidos beijos entre mulheres que pela forma como são filmados podiam bem ser cumprimentos entre amigas ou primas e não beijos entre vampiras lésbicas!
Posto isto mais uma vez declaro que adorei o titulo deste filme, mas detestei o filme em si. Quando for grande quero escrever sobre vampiras lésbicas e não vai ser nada disto, é que nem remotamente parecido!!
Tag Miranda, vampiras lésbicas
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Miranda
13
Com Gelo
Por vezes gostaria de me sentir uma ameaça à sociedade mas sei que não sou, nem nunca serei. A sociedade continuará a evoluir, de acordo com pressões culturais, religiosas e políticas, europeias, nacionais e regionais e eu limito-me a quedar-me espectadora das convulsões sociais, ansiosa para que algumas alterações me beneficiem a médio ou longo prazo. Em matéria de direitos sei que comparativamente não me posso queixar, afinal as mulheres até há relativamente pouco tempo não podiam aspirar a ter educação quanto mais a serem economicamente independentes de pai e marido.
Hoje em dia não só é permitido às mulheres que trabalhem, como é expectável que o façam, e as que assumem a sua ambição por uma carreira profissional, descurando família, marido e filhos, já não são olhadas de lado porque é normal, e até saudável que uma mulher tenha uma vida para além dos filhos.
Hoje em dia também é permitido às mulheres lésbicas que se assumam, que assumam as suas relações, que vivam em união de facto com a mulher que amam. Quando decidi juntar os trapinhos com a mulher que eu amo não houve problemas de espécie alguma, das imobiliárias aos bancos e até no cartório onde efectuámos a escritura, todos nos deram os parabéns, como se nos tivéssemos casado, como qualquer casal que decide encetar uma vida em comum.
Os vizinhos foram bastante acolhedores, especialmente os vizinhos de sexo masculino. Sempre senti um grau de aceitação inusitado por parte dos homens heterossexuais, compreensível se pensarmos que duas mulheres juntas é uma fantasia sexual recorrente para eles. Seja porque motivo for, a verdade é que os nossos vizinhos nos tratam nas palminhas. O mesmo não posso dizer das respectivas mulheres dos ditos vizinhos. Quando perceberam que éramos de facto um casal de mulheres, começaram a olhar-nos de lado, como se fossemos uma espécie de ameaça a qualquer coisa intangível. As nossas vizinhas heterossexuais sentem-se incomodadas com a nossa presença, e tenho a certeza que chateiam os maridos por nossa causa, que prefeririam que não estivéssemos na vizinhança, que alguma coisa de nós lhes tocará lá bem no fundo impelindo-as a olhar-nos de lado, com desprezo e talvez até algum ódio.
As minhas vizinhas fazem-me lembrar a Manuela Ferreira Leite e essa é uma das razões porque não posso votar nela nas eleições que se aproximam. Já senti na pele o desprezo dessas infames mulheres tradicionalistas que por certo nos associam à prostituição, se não a algo ainda pior. Para elas nós somos uma ameaça, na realidade nem sei bem porquê. Duas mulheres lésbicas nunca lhes roubarão os maridos, embora os possam manter distraídos e desconcentrados.
Ou têm uma ideia errada de nós (e quem poderá alterar-lhes essa ideia?) ou acham mesmo que somos o demo incarnado que viemos para lhes perturbar a aparente acalmia em que viviam. Mas se deixam que factores externos as perturbem tanto assim... que nervo será esse que tanto se irrita com a nossa presença ao seu lado? Gostaria de ter uma conversa franca com uma destas mulheres mas sei que isso não é possível. Existe um muro entre nós por elas erigido que eu não consigo penetrar e por isso talvez nunca perceba de onde lhes vêm os sentimentos que não escondem em relação a mim, e a nós.
Tag Miranda
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Miranda
5
Com Gelo
Hoje não me deixaste dormir Joana. De cada vez que fechava os olhos via os teus olhos de anjo, a tua cara sofrida traçada por socalcos de desconsolo e incompreensão. Sempre te levantaste contra as injustiças do mundo, sempre pensaste mais nos outros do que em ti e hoje presto-te singela homenagem querida Joana. Porque este mundo ainda não está preparado para as diferenças intrínsecas que existem dentro de cada um de nós.
A mãe de Joana fechou os olhos logo após a exclamação da enfermeira "é um menino!" e nunca mais os abriu. Durante toda a gravidez tinha sonhado com a sua menina semente que sentia crescer pujante dentro da sua barriga. Muitos anos depois da sua morte pós-parto ainda se comentava que tinha sido o desgosto daquela troca de género que a tinha matado, ou talvez até o desgosto que tinha sentido por pressentir que aquela sua filha nunca poderia vir a ter uma vida fácil e despreocupada. O facto é que Joana se sentia culpada pela morte da mãe que não conhecera. Tudo na vida dela emanava desse “engano” primordial cometido sabe-se lá por quem nem porquê. Tal como sua mãe, Joana estava convencida que deveria ter nascido menina e achou que um pequeníssimo adereço a mais entre as suas pernas não deveria ter a mínima influência naquilo que era a sua essência verdadeira.
A somar à morte da mãe, o pai abandonou-a por achar que aquele filho frágil e doente não iria sobreviver aos anos da infância e entregou-a aos cuidados da avó, que se encarregou de providenciar a educação que sentia necessária à neta, fosse ela menino ou menina. Se Joana sobreviveu foi graças a essa avó, que de tudo fez para que ela se mantivesse à tona num mundo lamaçal pestilento de agressividade e egoísmo.
Na escola Joana brincava com as meninas e andava sempre com elas excepto nos momentos em que precisavam de usar a casa de banho. Havia sempre um adulto que se lhe punha no caminho e lhe dizia "Então?? Aí é a casa de banho das meninas, tu não podes entrar aí, tu tens pilinha!" E lá se lembrava que aquele minúsculo adereço lhe impunha rigorosas regras de segregação que todo o resto do seu ser não compreendia.
Na aldeia e na escola habituaram-se a chamá-la de Ju, já que ela não respondia quando a tratavam pelo nome de baptismo. João ou Joana, tantas diferenças contidas, escondidas em tão poucas letrinhas. E um preço tão alto a pagar por querer um "n" ali antes do "a" no final. Joana nunca quis o papel de vítima, mas era diferente para todos os que a víamos sempre esmurrada, negra de cotoveladas e pontapés que os miúdos e algumas miúdas se esmeravam em lhe dar. "Que se passa Ju? Fizeram-te mal?" perguntei-lhe muitas vezes. E ela respondia "nada vizinha, não é nada, isto passa!"
Ana era uma das poucas meninas que brincavam com Joana. Para Ana não havia dúvidas, Joana era mesmo uma menina como ela, mesmo que soubessem as duas da existência do tal adereço entre as pernas. Foi Ana quem primeiro começou a tratar Ju por Joana e Joana nunca mais reconheceu nenhum outro nome senão aquele apesar de todos os anos que passaram até que pudesse ser seu por direito.
Há medida que o tempo passava as meninas tornaram-se mulheres e os meninos homens e Joana ficou ali no meio, parada no tempo, sabendo aquilo que era mas não conseguindo encontrar aceitação no seio daquela gente para aquilo que queria ser. Quando fez 16 anos a avó chamou-a e deu-lhe uma pequena caixa onde tinha guardado todo o dinheiro que tinha conseguido poupar desde o nascimento de Joana. Disse-lhe que o seu tempo tinha chegado ao fim, que não iria durar muito mais, e pediu a Joana para se ir embora dali. Tinha medo do que lhe pudesse acontecer assim que ela não estivesse presente para lhe valer.
E assim Joana se foi daquela pequena aldeia onde vivíamos. Partiu para a cidade e mais tarde soubemos que tinha viajado para o Brasil. Só Ana lhe sentiu a falta penso... pelo menos só Ana me disse que sentia a falta daquela menina tão carinhosa, tão sensível, tão prestável e amiga de todos.
Um dia passados muitos anos Joana voltou à aldeia mas ninguém a reconheceu. Veio ter comigo e disse-me que se lembrava tão bem de mim, que me preocupara sempre por ela. Demorei algum tempo a rever naquela bela mulher o menino enfezado que dali tinha partido. Explicou-me que no Brasil estavam muito à frente nas cirurgias de mudança de sexo que não sendo um caminho fácil era já possível e com resultados muito positivos. Congratulei-a por ter perseverado nesse seu caminho, abracei-a mesmo, sentindo já um enorme carinho pela mulher feita em que Joana se tinha tornado.
Perguntou-me por Ana, queria revê-la e saber se ainda se lembraria dela. Eu sabia que Ana nunca tinha casado, que era uma miúda terrivelmente introspectiva, vivia consigo e para si e raros conheceriam o que lhe passava na alma. Lá lhe indiquei o caminho e vi-a abalar tão segura de si, tão cheia de confiança naquilo que agora tinha para dar. Querida Joana, como me arrependo hoje... devia ter pegado em ti e na Ana e devíamos ter saído logo dali!
Ana reconheceu Joana, logo assim que a viu vir. Havia qualquer coisa a ligar essas duas almas, tão transcendental como a vida e o amor. Teve com ela uma conversa que não tinha tido com mais ninguém, talvez estivesse à espera de Joana para descarregar esse fardo que a tinha trazido tão pesada e presa em si mesma. Ana explicou a Joana que um dia já depois dela ter abalado descobriu que não gostava de rapazes. Não suportava que lhe tocassem e muito menos que a beijassem! Dava-lhe asco o seu cheiro a terra, a suor e a álcool. De tal forma que da única vez que um rapaz a tinha tentado beijar Ana tinha soçobrado acometida por fortíssimas náuseas que assustaram o miúdo de tal forma que nunca mais nenhum rapaz quis tentar alguma coisa com ela. Mas Ana sabia que não era frígida, apesar de ser essa a sua fama na aldeia. Só ela sabia os sonhos que povoavam as noites longas e solitárias. Sonhos estranhos esses... feitos de mulheres que a agarravam e a beijavam e aí não havia lugar a pânico de espécie alguma. Ana confessou a Joana que sentia que gostava de mulheres, que seria esse o caminho, não por opção mas porque era esse o seu destino.
Mas sentia-se confusa em relação a Joana, porque a idade da razão lhe tinha trazido a consciência do problema da amiga. "Eu sempre te vi como menina, sempre te tratei como menina, sempre te quis, sempre gostei de ti assim..." E Joana explicou-lhe que nos anos volvidos tinha encetado esse longo e doloroso percurso físico que a tinha levado à transformação e reordenação de alguns dos seus órgãos exteriores e interiores. Ao longo dos anos, pouco a pouco, Joana viu emergir em si aquilo que a definia como mulher. E sentia-se mulher, mesmo face ao egoísmo dalgumas útero-fundamentalistas que lhe negavam o direito de se expressar enquanto mulher pelo simples facto de não puder vir a conceber. Sentia-se plena mesmo assim, mesmo sabendo que nunca poderia albergar vida em si. E para mim esse argumento era maldade pura... igual a alguém que insultasse um cego por não poder ver!
O caso é que Ana se sentiu atraída por Joana, já antes se tinha sentido, mas não assim, dessa forma tão bruta e latejante. Sentiu um desejo tão profundo por essa mulher, um sentimento tão desesperante de querer nela submergir para sempre. Joana confessou-lhe que também nunca a esquecera, que viera do outro lado do oceano para a procurar e para saber se ela era como as outras ou se a aceitaria tal como era. Estava até disposta a que fossem só amigas, desde que reatassem esse laço que as tinha unido em crianças.
Ana aceitou Joana, acolheu-a em si, abraçou-a, beijou-a, lambeu-a, comeu-a... e foi magnífico! Um momento único, feito de Amor, Desejo, Vontade e Sexo. Tudo junto por uma vez só, rodopiando, subindo, explodindo em estrelas de mil cores por cima duma, por cima doutra, renascendo as duas nesse momento, nesse dia em que se amaram e se juraram Amor eterno, para sempre!
Queria parar aqui a história, queria deixar as minhas memórias congelar neste preciso momento em que as duas mulheres se amaram como nunca e se sentiram rainhas do mundo e donas duma sabedoria divina. Mas logo após, pouco depois, não sei se foram poucos meses ou muitos, a história ficou manchada de sangue e tristeza. Porque os irmãos de Ana não se conformaram, porque espalharam pela aldeia que Joana era maluca, uma bruxa que tinha sido enviada pelo demónio para destruir a irmã e toda a aldeia. Porque as gentes do campo são crentes no básico e porque se unem em matilhas raivosas para nelas esgotarem as frustrações dos seus dias plenos de mesquinhez e futilidades. Porque o Amor e a Vida não significam nada para essas matilhas que se viram contra os seus! Porque Ana e Joana não previram que a Raiva fervia na cabeça e na pele dessas gentes e porque eu própria não as tirei daquele antro antes que os outros as encontrassem e as apedrejassem até à morte. Ana ainda viu Joana desfalecer com a força do embate da pedra bicuda na sua nuca. Ainda tentou estancar o sangue que jorrava do corpo da sua amada, mas sem dedos nem mãos suficientes para travar a vida esvaindo-se em soluços quentes e vermelhos. Ana ainda viu como a turba ululante se atirou a Joana e a retirou dos seus braços, pontapeando e socando o seu corpo moribundo. Depois foi a vez dela mas nesse momento já nada sentia, toda a sua dor se tinha ido juntamente com o ultimo suspiro da mulher que amava. As pedras embatiam-lhe na pele mas por dentro já se congratulava por sentir Joana cada vez mais perto, lá dentro dessa luz que a chamava, lá onde as duas poderiam finalmente viver o Amor que aqui lhes tinha sido negado.
Porque as minhas duas meninas ainda estão Vivas, tenho a certeza disso. Sinto a luz das suas estrelas, sinto-as por perto nestas noites quentes de Verão em que recordo os seus sorrisos e o brilho dos seus olhos nos breves momentos de felicidade que viveram juntas. Tenho pena que a sua Luz não brilhe mais intensamente, para dentro da cabeça daqueles que acham que tudo sabem, tudo podem, tudo mandam!
Tag Miranda
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Miranda
26
Com Gelo
Fomos à Marcha do Orgulho 2009 e apesar do calor que se fazia sentir em Lisboa, estava um ambiente que só visto!
Apareceu muita gente, muito mais do que eu estava à espera. E muitas mulheres, jovens, bonitas, assertivas e confiantes! Muitas vieram de fora de Lisboa, comentavam que em qualquer outro sítio não poderia ter sido assim. Menos mal, por algum lado temos que começar e se é em Lisboa que temos que mostrar a força dos nossos números, então que seja!
Estamos nos milhares, qualquer dia chegaremos ao milhão num movimento que já é imparável!
Tag Marcha 2009, Miranda
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Miranda
2
Com Gelo
Tenho andado ausente por variadíssimos motivos pessoais e profissionais mas não posso deixar de apelar a tod@s que façam um esforço para estarem presentes na 10ª Marcha do Orgulho LGBT em Lisboa, já no próximo sábado. Acho, sinto, que o ano de 2008 foi um ano de viragem na causa dos direitos LGBT e acho, sinto, que daqui para a frente a nossa situação irá sem dúvida melhorar. Mas isso só se conseguirá à custa de tod@s os que se juntarem a nós na reivindicação dos nossos direitos. Tod@s, gays ou straights, teremos que demonstrar à sociedade civil que não pode continuar a menosprezar cerca de 10% (ou mais) dos seus membros. Queremos justiça e igualdade no tratamento das nossas situações conjugais e familiares! Queremos ser plenamente reconhecid@s como casais pela sociedade e pela lei!
Vamos à Marcha do Orgulho LGBT, por nós e por tod@s aqueles que ainda não têm coragem de dar a cara por medo e por vergonha!
Tag Marcha 2009, Miranda
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Miranda
6
Com Gelo
Ela não é mãe delas, dessas crianças bonitas, saudáveis, brincalhonas e alegres que correm pelos corredores fora aos gritos sempre que pressentem a sua chegada. Agarram-se a ela, aos abraços e aos beijos e pulam de alegria sempre que ela lhes anuncia que lhes trouxe um “miminho”. Não sei se é dEla mas com a mãe nunca é assim... tudo o que a mãe lhes dá é recebido como se fosse esperado, sem grandes alaridos, como se fosse a sua obrigação dar-lhes aquilo que elas queriam receber.
Depois é com Ela que elas se atrapalham a quererem contar os seus dias, sempre diferentes, sempre plenos de acontecimentos emocionantes e emocionais que Ela acompanha com enorme atenção e expressividade. É uma ternura só vê-las dependuradas nos braços dEla, e Ela absorvendo cada momento como se fosse mãe dessas crianças, sem o ser, mas se calhar sendo um bocadinho, ou mesmo muito mais do que só isso.
Tudo o que Ela faz é bem feito, a comida é tão saborosa, os "miminhos" são tão fantásticos, a sua atenção tão deliciosa. Ela é uma presença constante nas suas vidas, é uma força tremenda, é alguém em quem elas confiam, de quem sentem saudades quando não está, com quem se ligaram tanto que Ela já aparece nos desenhos da “família”. “Esta sou eu, esta é a mana, e a mãe e tu estás aqui a voar por cima de nós, estás a ver?” uma figura com asas abertas sobre todas elas, abarcando, abraçando mãe e filhas dentro de um sentir que é maior do que tudo o resto, porque Ela é assim, dá tudo o que tem, partilha tudo o que sente e sente que aquela é a família que escolheu, que a escolheu a Ela também para se unirem numa unidade indivisível, inquebrável feita de muitos momentos, muitos minutos e horas e dias e noites de partilhas de angústias, de alegrias, de temores, de feridas, de dores e dissabores.
Tanto assim é que às vezes já nem querem a mãe, é com Ela que se abrem, é Ela que lhes dá colo e as consola e lhes diz que amanhã vai ser melhor, amanhã vai tudo passar e voltam a ser as crianças saudáveis, brincalhonas e alegres que lhe enchem a alma e o coração tanto que quase transborda de tudo, tanto... igual ao medo que tem de vir um dia a perder essa família que escolheu, que a escolheu a Ela. Porque nada do que ali se passa está previsto na lei, não está escrito que pode ser Ela a acompanhar essas crianças quando precisarem de um adulto responsável por elas, porque um dia alguém que não sabe que Ela escolheu aquela família, que a escolheu a Ela, pode vir dizer que Ela não pode estar ali porque não é suposto ser assim.
Por Ela, e todas as outras mães que o são no coração de tantas crianças, apesar de não o serem no papel, é preciso mudar e adaptar as leis sim, porque o mundo que está lá fora não sabe a intensidade do amor que cresce nos seios dessas famílias que sendo diferentes na composição não deixam de ser iguais no sentir e no querer às crianças que assim crescem e assim se educam por esse mundo fora. E muitos parabéns ao Público e a todos os orgãos de comunicação social que tiverem a coragem e a sensibilidade de abordarem este tema na perspectiva de resolução de um assunto que já é real para tantas famílias no nosso país.
Tag Miranda
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Miranda
17
Com Gelo
Estive no Campo Pequeno na sexta-feira à noite para o que pessoalmente considerei ser um grande espectáculo de duas senhoras possuidoras de duas grandes vozes. Foi um espectáculo muito intimista, notava-se que Simone e Zélia estavam muito à vontade uma com a outra, mas daí a afirmar que elas trocaram vários beijos... "O tema de Luis Tati é terminado em dueto e em uníssono, culminando com o primeiro de muitos beijos na boca que o público foi testemunha."
Confesso que não vi nada disso, mas também não estava em posição de ver e será que isso foi o mais importante deste espectáculo?
Parece-me que esta notícia quis dar uma relevância a um tipo de relacionamento que pelo que sei Simone e Zélia não partilham, seja qual for a sua orientação sexual. E chateia-me que artistas do seu gabarito sejam alvo deste tipo de insinuações. As pessoas que foram ao Campo Pequeno foram para vê-las mas sobretudo para ouvi-las, porque são duas grandes artistas da MPB. A notícia cheira-me a coscuvilhice a roçar ao sensacionalismo e é pena que em Portugal tantas vezes a imprensa esteja mais interessada em saber quem dorme com quem ou quem beija quem do que naquilo que devia ter sido o seu foco de interesse, que foi a grandiosidade da junção daquelas duas vozes e almas cariocas para deleite de todos os que ali estavam para assistir a esse momento!
Tag Miranda
Servida por:
Miranda
23
Com Gelo
Servida por:
Lápis-lazúli
14
Com Gelo
Servida por:
Lápis-lazúli
17
Com Gelo