Cada vez que falo ao telefone com a AR vem-me á memória uma série de peripécias que passei durante as várias estadias em Barcelona. Já lá estive quatro vezes e muito provavelmente este ano vou uma quinta vez. É de longe, das cidades europeias que já tive o prazer de visitar, a minha preferida. A cidade é limpa e está muito bem estruturada. Os monumentos e os edifícios, não só os do Gaudí, estão bem conservados, assim como os jardins e as praças. Eu baptizei Barcelona como a "Cidade Dos Torcicolos". Porque não é possível evitar virar a cabeça de um lado para o outro, para baixo e para cima. No meu caso também virava muito a cabeça para trás para poder seguir com os olhos os homens maravilhosos que desfilam por aquelas ruas e avenidas. A vida nocturna é muito semelhante á de Lisboa, com várias zonas da cidade dedicadas quase exclusivamente aos bares e ás discotecas.
Bom, mas também me tenho lembrado de “mi novio catalan”. E admito que tenho sentido saudades. Tantas que ontem agarrei no telefone e liguei-lhe.
Eu conheci-o numa noite em fui sair com o amigo com quem tinha ido fazer essa viagem. A certa altura estávamos num bar, a ver um show, quando eu pensei que tinham apagado as luzes. Engano. Tinha era uma cara colada á minha e uma língua a fazer-me cócegas na garganta. Mas por dentro. Afastei-o bruscamente. Tão bruscamente que o meu amigo pôs-se logo em posição de ataque, não fosse eu desatar ao estalo com o rapaz. Daniel de seu nome. Mas o miúdo era tão engraçado que em dois segundos já estávamos outra vez a lambuzar-nos um ao outro. Foi daquelas coisas. Não consegui resistir. Conversámos, rimos, e fartámo-nos de dançar. A certa altura chegou a hora de irmos embora, com os seguranças a porem-nos na rua e a dizerem-nos que a disco ia fechar. No momento em que estávamos a sair o Daniel pergunta-me se gostaria de ir beber uma bebida a sua casa. E que iríamos de mota. Aceitei no momento. Ainda por cima ele estava equipado com um valente blusão de cabedal, botas e um “casco” daqueles que impõem respeito. Seria mais uma das minhas fantasias realizadas.
Isso era o que eu pensava, porque o que me esperava não não era nada disso. Então não é que o rapaz tinha uma acelera. E nem sequer era uma Vespa, porque essas são “vintage” e agora estão na moda, logo, só me ficava era bem andar a passear de Vespa por Barcelona. Não. Era uma daquelas aceleras que eu gosto de chamar de secador, pelo barulhinho estranho que fazem.
O diálogo que se segue é verídico e por isso ainda mais ridículo:
Eu (para o meu amigo): Mana, mana, tu nem sonhas, mas vou de mota com o Daniel a casa dele.
Amigo: Tu realmente és muito maluca, filha. E que mota é que o rapaz tem?
Eu: Ainda não vi. Mas pelo ar dele, deve ser um motão.
Nisto chega o Daniel que tinha ido buscar a mota para a porta da disco.
Olho e vejo o meu amigo deitado no chão agarrado á barriga. A rir ás gargalhadas.
Não resisti a dar umas valentes gargalhadas, admito. ( E mais umas enquanto estou a escrever este post)
Se eu tivesse um buraco no chão, escondia-me.
Eu (para o Daniel): Pêro cariño. Qué es eso?
Daniel: Esa es mi moto.
Eu: QUÉ???? ESO ES TU MOTO???? PERO...
Nisto passa um táxi e eu não faço mais nada. Afinal de contas ele era giríssimo.
TÁXIIIIIII.
« Mira cariño, escribeme en un papel el nombre de la calle ». Que eu vou lá ter contigo.
E assim foi. Felizmente ele não se chateou com a minha reacção. Até achou piada. E a ultima vez que falamos ele disse-me que já me podia mostrar a cidade de mota. Porque comprou á pouco tempo uma CBR não sei das quantas. O que pelo nome me pareceu ser um “motão”.